terça-feira, 22 de dezembro de 2015

QUE VENHA 2016!

QUE VENHA 2016!

A todos os amigos virtuais e reais, leitores, seguidores tanto do blog quanto do Facebook, meus mais sinceros votos de  bons ventos, muita paz e saúde em 2016.



segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

PESCOÇO DE GANSO!

Sabadão de manhã o Wagner já estava na rodoviária de Caçapava nos esperando, não sabíamos mas uma viagem bem congestionada estava nos esperando, saímos as 8:40 da rodoviária e só chegamos na Ribeira as 14:00 horas, fomos por Caraguá, fazia um tempão que eu não passava pela  Rodovia dos Tamoios, que esta bem diferente, duplicada até o trecho de serra, bem sinalizada, mas eu ainda prefiro a Oswaldo Cruz simplesmente porque a paisagem é mais bonita. No carro estávamos eu o Wagner, o Willyan, o Wallace e o Gabriel.

O Windguru apresentava um previsão de vento fraco e muito calor para o sábado, a parte do calor estava certa, mas aquele tempo quente e seco, abafado, sem nenhuma brisa não indicava isso, algo me dizia que no final da tarde viria uma boa chuva de verão e como sempre antes da pancada umas boas rajadas poderiam aparecer e eu estava contando com isso.

Quando chegamos na Ribeira montamos tudo muito rápido e embarcamos quase sem nenhum problema, a exceção foi o motor de popa que resolveu fazer graça, mas rapidamente desmontei o carburador do Tohatsu, lubrifiquei bem as peças e logo ele voltou a funcionar como novo. Rapidinho o Vivre estava abastecido de água, gelo, refrigerante e cerveja, ai foi só colocar todo pano em cima e sair naquele ventinho de 4 ou 5 nós, o destino era a Enseada do Flamengo, é bem pertinho, mas eu realmente estava contando com as rajadas de vento que o Windguru não previu, assim que saímos do Saco da Ribeira já dava pra ver as nuvens cinzas lá no horizonte, eu estava certo quanto a chuva de verão, mas ainda esperava as rajadas, que logo chegaram.

Eu tinha que enfrentar uma situação que me atrapalha bem, quando minha família esta embarcada, eu ficou mais frouxo (cagão mesmo), uso muito mais o motor e quando abro velas não tem vento, deve ser algum mecanismo de proteção que o meu cérebro desenvolveu sem meu consentimento, mas nessa velejada isso iria acabar, o vento chegou anunciando a chuva de verão, e eu ainda estava com os panos todos em cima, o vento foi aumentando gradativamente e quando eu percebi estávamos numa orça fechada num vento de norte-nordeste bem forte, com todo aquele pano não poderia ser diferente e o barco estava bem adernado, mas eu estava preparado, eu fui soltando a mestra um bocado e sob meu comando o Wallace foi soltando a genoa, ao mesmo tempo em que eu arribava um pouco, mas eu precisava mudar o rumo completamente, tinha que voltar para o centro da enseada, se eu desse um bordo o Vivre iria adernar muito, então dei um jaibe, que a tripulação executou com maestria. Se o comandante passa segurança a tripulação não se apavora, da última vez que tive experiência com ventos forte e minha família dentro do Vivre, tranquei todo mundo dentro da cabine, o Gabriel abriu a boca chorar, os meninos maiores assustados queriam  sair para me ajudar, coisas caindo dentro do barco, a Lena com os olhos estalados segurando o Arthur no colo, foi um fiasco, desta vez foi diferente, o Willyan com o Gabriel dentro da cabine acalmando-o e fez isso muito bem, o pequeno até se divertiu com a situação, todos cientes de que o vento aumentaria, e que estava tudo sob controle, sem pânico, sem choro de criança, sem susto.

Mesmo com tudo sob controle estava ficando difícil de controlar o Vivre, o vento fazia uma força descomunal nas velas e as escotas foram ficando pesadas e o barco cada vez mais arisco, eu teria que rizar a mestra com o barco em movimento, as adriças do Vivre ficam amarradas no cunho lá no mastro, portanto, o Wallace teria que ir lá, coloquei o Vivre numa orça bem fechada, e quando o Wallace deu o sinal eu cacei bem as escotas e deixei o barco panejar naquele ventão, assim que ele soltou a adriça da mestra eu escutei e senti um forte estalo, chegou a balançar o mastro, foi estranho de mais, o pior que só eu notei, perguntei para o Wagner se ele tinha sentido o tranco ele disse que não, dei a ordem para o Wallace arriar totalmente a mestra e depois iriamos baixar a genoa, aquele estalo seguido de tranco não era um bom sinal. A faina de arriar as velas que o Walace executou foi perfeita, e vou dizer que  não é fácil baixar uma vela quando o vento passa dos 10 nós, eu cálculo que estávamos em um vento de 13 a 15 nós.
Foi uma velejada radical de uns 15 minutos ali na enseada,  assim que as velas foram arriadas a chuva chegou, fria como gelo, foi bom pois serviu para dar uma arriada na adrenalina também, confesso que estava orgulhoso por manter a situação sob controle, mas o coração estava a milhão dentro do meu peito, foi ótimo!

Pegamos uma poita emprestada na praia do flamengo, eu e o Wagner fomos esticar uma lona sobre o Vivre, para deixar a situação um pouco mais confortável, a chuva já havia passado mas o céu prometia mais uma pancada, antes de mais nada enrolei a mestra na retranca e quando eu cacei o amantilho, sim eu caço meu amantilho, descobri o que tinha sido aquele estalo, a retranca caiu, o vento foi tanto e fez tanta força que causou um estrago no gooseneck do Vivre.

Gooseneck, é uma peça que faz a junção da retranca com o mastro do veleiro e permite que a retranca se movimente para todas as direções, é uma junção das palavras inglesas  Goose = ganso e Neck = pescoço, aqui no Brasil os marinheiros mais abrasileirados, ou aqueles cuja cultura náutica veio do berço simples da marinharia caipira, chamam essa peça de  garlindéu, eu prefiro garlindéu.

Ao contrário do que parece, não houve nenhum jaibe chinês (aqueles não intencionais que geralmente terminam com um tranco no bordo contrário) ou algum movimento que pudesse romper a peça, minha análise da peça é que ela já estava avariada e com o esforço se partiu, simples assim.

E assim o Vivre esta fora de combate até que eu ache alguém para arrumar minha retranca, parece que tem um senhor que faz esse trabalho lá em Ubatuba, mas só pega no batente ano que vem.

Limpamos o casco do Vivre, almoçamos e voltamos para a Ribeira velejando só de genoa, mas logo senti que o barco estava diferente, não sei se foi só impressão minha, mas resolvi guardar as velas e seguir de motor.

Assim acabou o final de semana em que o Vivre quebrou o pescoço!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

TRABALHO DURO.

Desta vez fui chamado para fazer o painel de comando do motor do clássico, charmoso, elegante e antigo Malagô, confesso que pra mim o velho Malagô é o veleiro mais bonito da nossa costa.

O serviço foi executado e pelo que me parece o Juca aprovou.

 O plano era chegar na quarta-feira, executar o serviço e voltar na quinta-feira a noite, mas o Juca fez o favor de me convidar para uma velejada na sexta, não resisti, fiz o pedido de alvará para a patroa, que aceitou o pedido prontamente, acho que ela anda meio de saco cheio de mim e também estava querendo uma folga, resumo da ópera, dormi no Malagô de quarta para quinta e de quinta para sexta.

Da outra vez que fui dormir no Malagô, que fica no CIR (Clube Internacional de Regatas) em Santos, esqueceram de avisar o segurança, você pode ver essa história clicando aqui, dessa vez ocorreu algo parecido, avisaram o segurança, mas, durante a noite como estava muito calor e os pernilongos resolveram provar o meu sangue, e parece que gostaram, fui bater um papo com os seguranças do clube, saquei uma coca-cola e três copos plásticos para dividir com eles, mas assim que saltei do barco, o segurança que atende pela alcunha de 02 me abordou, me tratou como um bandido, me ameaçando com seus dentes pontiagudos e pelos eriçados me acuou no trapiche, pensei em me jogar na água ou sair correndo, mas poderia ser pior, a sessão de tortura só terminou quando os outros dois seguranças intercederam por mim aos berros, foi horrível, não sei o nome do 02, nem pude tirar uma foto pois minhas mãos estavam muito trêmulas, mas achei uma foto de alguém parecido com ele na internet, vejam a cara do mal educado:
Sósia do 02 (zero-dois)
Depois deste episódio, parece que ele entendeu que eu estava morando no CIR por uns dias e me ignorava toda vez que eu passava perto dele, no final até ficamos amigos.

Na sexta-feira foi só alegria, zarpamos com o Malagô, o barco além de bonito é incrível, houve um momento que ele galgou uma onda e eu esperei pela batida da proa na água quando ele despencasse lá de cima, cheguei a firmar o corpo, mas o barco desceu elegantemente, nem espirrou água, velejamos por algumas horas sem compromisso com rumo, claro que tínhamos um, mas não havia um destino no final dele.




As fotos são de autoria do Juca.
Para quem não sabe o Juca mantém uma escola de vela e um blog super visitado por velejadores do Brasil inteiro, o endereço é http://veleirobaldoso.blogspot.com.br/

E VAMOS NO PANO MESMO!!! E que panos tem o Malagô!

sábado, 5 de dezembro de 2015

OLHA MÃE... SEM MOTOR!

Alguns dias atrás recebi um e-mail, era o Wagner (não, não era meu irmão), me contou que acompanha o blog e que tem planos de comprar um veleiro, assim queria ter uma aula sobre os fundamentos da vela no Vivre, combinamos a data e fomos.

O Wagner é um cara simples, gente fina, batalhador e comerciante nato, foi um prazer recebê-lo no Vivre, mais do que um leitor ele se mostrou um fã do Vivre, lembrou muitas histórias que contei aqui, praticamente conhecia o Vivre sem nunca ter pisado lá. Já vou adiantar que por motivos pessoais ele também não quis que as fotos dele fossem postadas, tem bastante gente que cuida da privacidade com muito mais afinco e cuidado do que eu.


Chegamos cedo na prainha da Ribeira, desta vez levei o bote excursion 3 e um remo, o bote "profissional" não caberia no carro do Wagner, o Windguru previa um tempo frio com ventos entre 7 e 10 nós e sem chuva, embarcamos no excursion e toca remar até o Vivre, como o vento estava forte e contra, o bote avançava com um pouco de dificuldade, mas avançava, até que um senhor que passou com uma voadeirinha nos ofereceu uma feição, é a segunda vez que esse senhor me dá uma carona e eu nem sei o nome dele, sei que ele cuida com muito cuidado de uma escuna vizinha de poita do Vivre, da próxima vez pergunto o nome dele.

O Windguru quase acertou 100% da previsão, só errou na chuva, assim que embarcamos no Vivre ela caiu com vontade,  veleiros são assim mesmo, as vezes eles não querem trabalhar e arrumam alguma desculpa, eu bem que quis sair com chuva mesmo, mas o Wagner refugou, então fui fazer o nosso almoço. Eu não sabia, mas o prato principal do restaurante Vivre, que é massa com frutos do mar, é conhecido fora do Saco da Ribeira, o Wagner fez questão do prato, só para constar os ingredientes são macarrão, sardinha e massa de tomate e o ingrediente principal é a fome, eu costumo dizer que as pessoas gostam do meu macarrão com sardinha pois sempre estão com fome quando ele é servido, e a fome é o melhor tempero que existe, vejam as fotos do bistrô Vivre:



Nosso prato mais famoso

Acho que o prato fez sucesso de novo!






























Almoçamos, e a chuva não parava, só aumentava, então resolvemos partir para os aperitivos e abrir aquela cerveja, o barco não sairia da poita mesmo, por isso liberou a cervejinha.


Depois da cervejinha o Wagner topou me ajudar em uma manutençãozinha na bomba pressurizada do Vivre, já fazia um tempão que estava adiando isso!

E assim o dia acabou e o Wagner resolveu aceitar o desafio da pescaria, pra quem não sabe eu explico, nunca, nenhum homem, mulher ou criança embarcou um peixe no Vivre, pelo menos um peixe pescado na hora, e não faltou pescador pra tentar viu, por isso foi lançado o desafio, o primeiro peixe embarcado se transformará em um sashimi, sempre tem shoyo e wasabi na dispensa, como era de se esperar ainda não foi dessa vez que comi o peixe cru.

Pois enfim chegou o dia de zarpar, o windguru previa ventos de 10 nós com rajadas de 12 ou 13 nós.
Algum tempo atrás eu não abriria velas num vento de 10 nós, hoje já dá pra fazer isso. Certa vez, conversando com um grande velejador lá na Ribeira, ele me disse que com 15 nós o veleiro dele abre todas as velas e ainda estende algumas toalhas pra pegar um ventinho a mais.

De manhã quando zarpamos o vento era zero, mesmo que a previsão diga que vai ventar de manhãzinha ali no Saco da Ribeira eu já não acredito mais, o vento só chega lá depois das 09:00 e assim foi, saímos motorando até o través da praia do flamengo, eu e o Wagner fomos conversando sobre barlavento, sotavento, boreste, bombordo, alheta, través adriças e escotas, e nada de entrar o vento, então resolvi que já que era pra boiar que boiássemos lá fora, depois da ponta grande, assim que passamos a dita cuja o vento entrou o mar picou um pouquinho e o Wagner mareou, mareou mas foi valente, quando falei em ligar o motor para chegarmos mais rápido na poita ele decidiu que aguentaria e voltamos só na vela mesmo, uma velejada gostosa demais, vento de través e o Vivre numa velocidade confortável, uns 5 nós, e velas cheias, o Vivre é muito dócil e fácil de velejar.

Como a velejada estava boa resolvi chegar até a poita sem ligar o motor, comuniquei minha decisão ao Wagner e ele gostou da ideia, o problema seria pegar o vento de popa assim que contornássemos a praia do flamengo, velejar com vento de popa é diferente, necessita de mais atenção e carinho com as escotas, decidi encher as velas com um vento de alheta por boreste, o Vivre aceitou de novo o comando e assim foi até a poita, quando cheguei perto desarmei as velas e o Wagner pegou a poita de primeira, fiquei orgulhoso da velejada, nosso motor anda trabalhando cada vez menos!

O Wagner apesar de ter mareado se divertiu e isso pra mim é o mais importante, visita feliz é missão cumprida.

As 13hs já estávamos a caminho de Caraguá, o Wagner armou o almoço na casa de um amigo, o Wilson, casa de mineiro não poderia ser diferente, fomos muito bem recebidos, comemos salame, frango, calabresa, um feijãozinho pra lá de gostoso, eu tomei mais uma cervejinha e batemos papo até lá pelas 16hs, saí no lucro, conheci só gente fina nestes dois dias.



terça-feira, 1 de dezembro de 2015

TRAVESSIA UBATUBA - ILHA GRANDE

Inscrições fechadas.
Travessia Ubatuba - Ilha Grande em flotilha.
Data: de 13/12/2015 até 20/12/2015
Investimento R$ 700,00 por pessoa (em até 12x no cartão via pag seguro)
Incluso: Café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar.
Estamos com 3 Vagas no Vivre para a travessia Ubatuba Ilha Grande da flotilha Itaguá, serão 8 dias de muita vela e mar, pernoites em praias paradisíacas, muita conversa de convés e de bônus ainda tem a travessia da famosa e temida ponta da Joatinga.
Ganhe dias para lembrar e muitas histórias pra contar!


Maiores informações e reservas pelo e-mail walnei.antunes@gmail.com ou pelo Whatsapp (12) 98706-3194

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

VIXI! DEU MER...

Essa me contaram quando estava trabalhando na elétrica de um veleiro no Rio de Janeiro, vou mudar o nome dos personagens para não comprometer ninguém pois o caso é verídico.

Garibalde é um velho lobo do mar, velejador ativo aos 85 anos, proprietário de um brasília 32 que tem o nome de Birds Bis, sabe tudo de mar, vela e barcos. Garibalde certa vez convidou o Abrantes e o Nestor para um fim de semana embarcados no Birds Bis,  sairiam do Rio até Ilha Grande, onde fariam um ou dois pernoites e voltariam pra casa.

Abrantes também é homem do mar, mestre amador habilitado, já o Nestor nunca tinha embarcado em um veleiro na vida e não conhecia as manhas e manias de um veleiro.

Eles já estavam na Ilha Grande quando a noite começou a cair, Garibalde avistou um dupla de pescadores que estavam indo pescar camarões e encomendou uma bocado deles, algumas horas depois os camarões já tinham se transformado em uma deliciosa moqueca, com azeite de dendê, leite de coco requeijão, Abrantes além de velejador é um ótimo cozinheiro, não sobrou um camarão pra contar a história, entre uma garfada e outra rolava um gole de vinho ou cerveja, sim o barco estava bem "equipado". Foi uma noite regada a comida boa e conversa melhor ainda.

De manhã Nestor acordou meio, digamos, desarranjado do intestino, nem tomou café e se trancou no banheiro do brasilia 32, que aliás, era o xodó do Garibalde, 10 minutos lá dentro e de repente o grito:
- Puta que pariu Garibalde, olha a merda que eu fiz no seu barco. Garibalde gelou, achou que tinha algo errado com os registros do vaso sanitário e correu até o banheiro.

Quando Abrantes viu Garibalde chorando e embarcando no bote com cara de poucos amigos ele perguntou:
- O que aconteceu? Algum problema?
- Tem merda no teto! Respondeu Garibalde enquanto dava partida no motor do bote. Ficou claro que ele iria à terra, Sem entender nada Abrantes foi conversar com Nestor para saber o que estava acontecendo e ai obteve a explicação

"Hoje eu acordei com dor de barriga, a moqueca de ontem não me fez muito bem, então acordei e fui direto para o banheiro, aquela privadinha é estranha, mesmo assim tive que usá-la, depois de 10 minutos sentado lá já me sentia melhor,  a barriga já não estava mais 'empachada' ai fui dar descarga, vi aquela bombinha do lado da privada e fui chuc, chuc, chuc, chuc, chuc e nada da privada limpar, então fui de novo na bombinha, chu, chuc, chuc, chuc e nada bombeei mais um bocado até a bomba ficar dura, foi ai que eu percebi que a válvula no pé da privadinha estava fechada e abri, e quando eu abri a privadinha  que tava cheia de pressão jogou tudo que tinha dentro como um vulcão, o banheiro ta todo cagado, o Garibalde ficou puto e foi comprar material de limpeza pesada, acho que ele ficou um pouco chateado comigo!"

Dizem as más línguas que até hoje o Nestor é persona non grata no Birds Bis!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

RIME OF THE ANCIENT MARINER.PARTE 4.

Links para as partes anteriores do post:
Parte 1
Parte 2 
Parte 3 



O Vento:
Assim que cheguei na poita eu amarrei o barco, a poita do Vivre tem 4 alças, duas com cabos grossos e duas com cabos finos que eu mesmo fiz, gosto de fazer essas marinharias, como estava com pressa para desembarcar o Dani por causa da febre, eu prendi o veleiro somente com alças mais finas, prendi o reforço do top da genoa no mosquetão que prende o punho da amura, traduzindo prendi a parte de cima da vela junto com a parte de baixo bem onde a vela fica presa na proa, amarrei a grande com um elástico, desses de moto, na própria retranca.
Depois de um dia cheio e muito quente, com direito a mergulho com motor e tudo, deixei os visitantes no pier do Saco da Ribeira por volta da 18 horas, dei um pulinho no mercadinho tomei duas cervejas e comprei mais quatro pra tomar no Vivre, é gostoso tomar uma gelada no barco, principalmente em uma noite quente, eu sento no cockpit e fico apreciando o balanço do mar e os peixes pulando, na verdade cerveja é bom até na fila pra tomar vacina. A noite estava quente e a cerveja já fazia seu trabalho diurético, e toda hora lá estava eu na prainha do barco fazendo xixi, é muito legal fazer xixi de noite no mar, em especial quando a noite esta escura, os planctons cintilam com um verde neon típico deles.
Deixei a cerveja de lado e fui me deitar um pouco, peguei o celular e por WhatsApp fui falar com o Luiz Cabral do veleiro Spirity Of Libert, um O´day bem ajeitado, estávamos combinando minha visita ao barco no domingo para fazer uns reparos na parte elétrica, de repente as velas começam a bater por conta de uma rajada forte de vento que entrou, saí para amarrar melhor as velas pois um elástico não iria segurar a grande se o vento aumentasse, já passei apertado com velas armando sozinhas por estarem mal amarradas, peguei uns cabos e amarrei a grande, quando fui amarrar a genoa o vento entrou de vez, e com vontade, até assoviava, perto do Vivre tem um barco com um sino e toda vez que venta o sino toca desesperadamente, tim, tim, tim, tim, o vento era tanto que não dava pra ficar de pé, fiz a amarração da vela sentado, me arrastando pelo convés, finalmente a vela estava toda amarrada, nem se mexia mais, quando olhei para os outros barcos foi bonito de ver, todos aproados para o vento como que fazendo um reverencia a ele, e o vento aumentava cada vez mais, nesse momento começou a tocar RIME OF THE ANCIENT MARINER no radinho do Vivre, adora essa música e não podia ter tocado em hora mais oportuna, corri para a cabine e aumentei o som no último, e o vento aumentando, lembrei que as alças que prendiam o Vivre eram finas e isso me preocupou, me arrastei para a proa de novo dessa vez com o croqui na mão, a ideia era laçar as alças mais grossas e amarrar o barco a elas também, e a música tocando alto:
"Hear the rime of the ancient mariner
See his eyes as he stops one of three
Mesmerizes of one of the wedding guests
Stay here and listen to the nightmares of the sea!"
Esta imagem ilustra bem como eu me senti!
Lacei as alças, mas o vento era tanto que não dava para coloca-las nos cunhos e em um esforço descomunal fiz uma alavanca com o croqui no púlpito, os músculos do meu braço pareciam que iam explodir, estava sentado com as perna para fora do barco, trancei as pernas no cabo do croqui e puxei com toda força do mundo, pronto uma alça estava presa, e o vento uivava, e o sino do outro barco tocava deixando a situação ainda mais tensa, dava pra sentir o cheiro da adrenalina que exalava do meu corpo, e apesar do vento eu suava em bicas, foi então que o mar começou a crescer, e eu me lembrei do bote que estava amarrado lá na popa, quando olhei não acreditei, o bote estava flutuando uns 30 centímetros acima da água, parecia uma pipa, o lais de guia que faço para amarrar o bote estava sendo posto a prova, e passou no teste, acabou a música, como tudo estava sob controle, pelo menos dentro do possível numa situação como essa, fui pra cabine e coloquei a música para tocar de novo, dessa vez mais baixo, fiquei olhando com admiração e encantamento a força da natureza, torci para que os cabos aguentassem, os do Vivre e os dos outros veleiros também, foram 39 minutos de emoção, fazia muito tempo que não me sentia tão vivo, tão forte, tão capaz, me senti um homem do mar, acho que foi efeito da adrenalina.
Quando o vento acalmou, abri a última cerveja e começaram a chegar as mensagens pelo celular, o Luiz Cabral, o Adir, o Hermes, todos queriam saber como eu estava, se estava tudo bem comigo e com o barco, naquela noite não consegui dormir.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

RIME OF THE ANCIENT MARINER.PARTE 3.

Links para as partes anteriores do post:
Parte 1
Parte 2 


Um dia de passeio::

Olha o Gu, vocês acham que ele ficou
à vontade?
Finalmente chegou o dia de largar a poita, o Edson chegou cedo com toda a família, ele, a esposa Edna, o Gu filho dele, o Felipe cunhado e o Dani o sobrinho. O Gu e o Dani têm por volta de 4 anos, assim que embarcaram já entraram na cabine, montei a mesinha para eles e saquei o pictureka, um jogo de cartas, para eles brincarem, preparei o convés, conferi as velas, cabos motor, dei uma olhada no GPS no celular e partimos, tirei o barco do meio da área de poitas e logo passei a cana de leme para o Edson que navegou muito bem, só faltou vento, por isso fomos até a Praia do Sul no motor mesmo.
Já estávamos na saída do Saco da Ribeira, prontos para dar um bordo e seguir em um rumo reto até o través da Praia do Sul quando o Acrux tripulado pelo Edmur e pelo Hermes se aproximou, eles estavam prontos para participar da Regata, o Edmur como sempre, era o mais animado da turma,
 A regata foi um espetáculo a parte, os barcos largaram quando estávamos no través da ilha Anchieta, ver o Sessentão, o Montecristo e o Áries navegando juntos foi muito legal mesmo.
O Edson chegou perfeitamente até a praia do Sul, quando estávamos bem próximos, mas a uma distância segura, assumi a cana de leme para as fainas de fundeio, na Praia do Sul tem pedras pra todo lado e é mais seguro fundear um pouco pra fora, só que é fundo, ai precisa de muito cabo, é meio enroscado fundear lá, mas a praia vale a pena.
O Edson e a Edna, acho que ele gostou da cana de leme!
Esse não escapa do bichinho da vela não, nem ela!

Chegamos na Praia do Sul as 13hs e ficamos lá até as 15hs, desembarquei meu fogãozinho e fizemos uma "farofinha" em grande estilo, o Dani, uma das crianças que estava no barco, estava muito quietinho e dormiu a tarde toda sob uma gostosa sombra  de árvore, quando fomos zarpar, embarcamos ele no bote e do bote para o Vivre sem que ele acordasse, a ideia era irmos até a praia do Flamengo para brincarmos mais um pouco.
Assim que saímos o vento apareceu, fraquinho mas apareceu, e o Edson, aspirante a dono de veleiro, mareou levemente, como ele mesmo definiu, como estávamos com um vento constante de través permiti que ele ficasse na área VIP do barco (na proa) mesmo durante a velejada. No meio do caminho o Dani teve uma febre, pronto, acabou comigo, foi aí que eu tomei a decisão de seguir direto para a poita e desembarcar o  Felipe, pai do Dani e o menino o mais rápido possível, velejar tem que ser divertido para todo mundo e não estava mais divertido nem para o Dani nem para o Felipe. O Felipe é um cara muito legal e um pai muito dedicado, percebi a preocupação dele com a febre da criança, todos ficamos preocupados claro, mas o Felipe é pai.
Visitantes felizes, missão cumprida!
Chegamos na poita e minha preocupação fez com que eu me desconcentrasse da rotina do Vivre, falta de atenção no barco é uma coisa imperdoável e o meu castigo chegou rapidinho, desamarrei o motor de popa do Vivre e fui colocar no bote, e num movimento desconcertante fui pra água com motor e tudo. Tchibum!!!! Sempre imaginei esse momento, por isso mesmo toda vez que vou baldear o motor seguro bem o cabo que fica amarrado nele, quando caí o motor me puxou para baixo com menos peso e velocidade do que eu imaginava, mesmo assim afundei alguns metros, totalmente dono da situação e sem apavoramento olhei a escada da prainha, nunca a tinha visto daquele ângulo, se eu subisse um pouco conseguiria segurá-la e puxar o motor, e assim fiz, tudo isso não durou 5 segundos e logo eu estava com o motor na superfície novamente. Agora o problema seria fazer o motor pegar, coloquei o bichinho no bote e depois de algumas puxadas na "cordinha" ele funcionou como se nada tivesse acontecido, motorzinho fantástico esse Tohatso.
Vou ficar devendo uma foto do Dani e do Felipe, eles não me mandaram.
Foi um prazer enorme receber a família do Edson e da Edna a bordo do Vivre, espero que venham mais vezes.
No próximo post, o último da série, vou contar como foi enfrentar um ventão com o Vivre na poita e sozinho no barco!

Link para a próxima parte do post:
PARTE 4

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

RIME OF THE ANCIENT MARINER.PARTE 2.

Link para a parte anterior de post:
Parte 1

O ser voante:

O Edmur me convidou para almoçar uma deliciosa calderada, a esposa dele já nos aguardava no restaurante quando chegamos, fiquei muito contente quando ele pediu a mocinha da balança que marcasse minha despesa na comanda dele. A conversa do almoço não foi só sobre barcos, o Edmur é um cara muito divertido e gosta de viver a vida de verdade, além de velejar o Acrux ele voa de paraglider, ultraleve e asa delta e me contou sobre como iniciou sua carreira de homem voador. E ele me contou algo mais ou menos assim:
"Sempre achei o máximo as assas delta, uma vez nos juntamos em seis amigos e fomos para um ponto de salto, os caras pegavam suas assas e se lançavam no vazio do abismo e quando achávamos que tinham se estatelado conseguíamos ver a asa delta voando com seu passageiro, não deu outra, saímos de lá decididos a comprar um negócio daquele, e assim foi, na outra semana já estávamos com a nossa asa delta comunitária, junto com o equipamento vinha um manual, li as primeiras três páginas e para minha surpresa o assunto era como sobreviver em caso de queda, parecia um manual de campista, joguei aquela merda de livrinho de lado, vesti o equipamento de segurança me engatei na asa e pronto, iria voar sozinho pela primeira vez, respirei fundo, levantei a asa, tomei coragem primeiro, depois impulso e comecei a correr... Antes da terceira passada tomei um puta tombo e quebrei a clavícula... e depois disso não parei mais de voar"
O Edmur é assim não se consegue ficar triste na companhia dele, a vela sempre me aproxima de boas pessoas.

Visitas surpresa:
Depois do almoço voltei para o Vivre para continuar a limpeza e a arrumação para receber o Edson e sua família, enquanto ia lavando o interior do Vivre ia dando uma olhada no WhatsApp do grupo de velejadores do Itagua, o grupa estava fervendo, muitas histórias e planos para a regata que aconteceria no sábado, o Edmur correu com o Hermes no Acrux o Cezar correu com o veleiro Maluí, mas isso é uma outra história, no meio da conversa alguém fala que uma família gostaria de passear de veleiro na sexta-feira, me prontifiquei a recebe-los no Vivre e logo o Beto me liga, disse que estava chegando a Ubatuba e que gostaria de dar uma velejada se o tempo permitisse, então marcamos para nos econtrarmos no pier do Saco da Ribeira no outro dia cedinho. A noite o Beto me liga para cancelar a velejada, a previsão era de chuva e ele preferiu abortar e deixar para uma outra oportunidade, contudo, queria conhecer o Vivre. Na sexta cedinho lá estava o Beto, a esposa e o filho no pier, fui buscá-los e logo estávamos embarcados e fazendo o que de melhor se pode fazer fazer em um veleiro, conversando e rindo muito, passamos uma manhã muito agradável e divertida mesmo com o barco na poita, já são mais três almas salvas.

Logo que retornei do pier para continuar a limpeza do barco, um multichine que atende pelo nome de Vida Dura passou perto do Vivre e o comandante me perguntou se eu era o Walnei, respondi que sim e ele me disse que já leu o blog do Vivre inteiro e que eu tive uma parcela de culpa na decisão dele de comprar o Vida Dura, fico muito lisonjeado quando isso acontece, lá Ribeira tenho alguns veleiros afilhados, o Vida Dura é mais um, disse ao comandante que apoitasse o veleiro e que viesse para o Vivre para conversarmos, dito  e  feito, dez minutos depois lá vinha o Leandro com seu pai em um caiaque inflável, o pai do Leandro é um senhor japonês muito simpático, me perguntou se eu pescava, eu disse que tenho uma loja de iscas artificiais na internet, mas que nunca peguei um peixinho sequer no Vivre, corri na minha caixinha de pesca e o presenteei com um par das minhas melhores iscas, a Tube Jig, pedi que ele fotografe os peixes que vai pegar com elas e me mande as fotos, pronto a loja já tem um garoto propaganda, o Senhor Noritomi.
Conversamos por mais de uma hora e o Leandro e seu pai se foram, com certeza vamos nos encontrar muitas vezes no mar, afinal a Vida é Dura né Leandro!

tem mais gente!

Links das próximas partes:

PARTE 3
PARTE 4

domingo, 15 de novembro de 2015

RIME OF THE ANCIENT MARINER. PARTE 1.

O Início.
Tá bom, vocês vão entender o título do post daqui alguns dias, quando eu terminar de contar a história dessa semana e escutarem a música do Iron Maiden.
Comecemos do começo, conheci o Edson pela internet, um leitor do blog, que quis conhecer a rotina de um veleiro, então resolvi convidá-lo para passar um dia no Vivre, a rota que tracei foi Ribeira-Praia do sul-Flamenguinho-Ribeira, começamos a conversar por WhatsApp para combinarmos a nossa velejada, nossas conversas on line duraram mais ou menos um mês, durante nossas conversas ele me falou que o filho dele, de 4 aninhos, era alérgico, pronto, mudou tudo, o menino passou a ser a minha maior preocupação. Muitas vezes as pessoas confundem cuidados com alergia com frescura, não, não é, alergia é um negócio complicado que só quem tem criança próxima alérgica sabe como é, eu tenho um sobrinho, na verdade é filho de uma prima de segundo grau, mas minha família é uma mistura de espanhóis com peruanos com portugueses com italianos, sim eu conheço minha árvore genealógica quase desde a raiz, por isso primo de quinquagésimo nono grau é sobrinho, que se comer um pedaço de pão que passou perto de uma faca que encostou na manteiga da um trabalho danado, os olhos incham, a pele pipoca, é um Deus nos acuda, por isso o Vivre passou por dois dias de banho com água sanitária pra tirar o mofo , uma força tarefa que fiz sozinho, não posso nem começar a falar do cardápio pois iria levar uns oito posts só pra descrever  minha preocupação com a criança, pra vocês terem uma ideia quando pensei em comprar uma caixa de bombons liguei para o Edson e o bombom ficou na prateleira, mas antes que eles embarcassem aconteceu muita que vou contar.

Professores.
Hermes, achei essa foto na internet.
Hermes lá atrás, Ricardo Stark do veleiro Gaipava
de camisa cinza (provavelmente do Malagô) e o Cezar
em primeiro plano. Tô certo gente?
Desci para Ubatuba na quarta-feira, a intenção era fazer a elétrica do Papo de popa, um veleiro Ranger 22 que como não podia deixar de ser tem alma de regateiro e o Hermes como pai, digo proprietário, na quinta-feira, infelizmente não deu pra trabalhar no barco pois as pessoas que foram contratadas para a faina de retirar o barco da água não apareceram, contudo, conheci pessoalmente o Hermes, que até então conhecia somente pela internet, mestre na arte de regulagem de velas e mastros, um verdadeiro homem do mar, calmo, barbudo, conhecedor das fases da lua e das marés, ainda vamos conversar mais sobre barcos, ele tem muito a me ensinar, conhecê-lo já me valeu a semana toda.
Na quinta, no horário marcado com o Hermes eu estava no Itaguá. Para nos levar até o Papo de Popa estava o Edmur do veleiro Acrux, Acrux é o nome de uma estrela que também é conhecida como estrela de Magalhães é a estrela mais brilhante do cruzeiro do sul, o Edmur é um cara divertido pra caramba ( pra não falar divertido pra caralho pois evito palavrão no blog ) que me lembra demais o melhor e maior amigo que já tive e infelizmente foi para outro plano muito antes do que eu gostaria, ele nos levou até o Acrux onde arrumei o rádio VHF e por isso ganhei um almoço, e depois até o Papo de popa, que doravante será chamado de PP, onde fiz um orçamento que não agradou nem a mim nem ao Hermes e por isso mesmo fechamos o preço do serviço, mas eu saí ganhando pois usufruí dos conhecimentos dele.
Também conheci pessoalmente o Cezar do veleiro Maluí, ex dono do Malagô, Malgô é o barco mais charmoso da costa Brasileira, o Cezar me pareceu um Cara cuca fresca que tem muitas histórias de mar pra contar, outra pessoa que quero ter na Popa do Vivre pra bater um Papo interessante. Ainda conheci o Spirit of liberty um O´day 23 lindo demais, mas que também estava com problemas elétricos. O saldo do dia foi muito positivo, nunca conheci tanta gente boa num mesmo dia, se existisse uma faculdade de vela, esses caras que apresentei seriam os professores.

Gente, peço que tenham paciência pois tenho muito mais pra contar, claro que teremos continuação!

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PARTE 3
PARTE 4 

sábado, 7 de novembro de 2015

SUPERSTICIOSO? NÃO, PRECAVIDO!


Esta semana conversei com duas pessoas que pretender, como eu, mudar o nome de seus barcos. Quando eu disse que iria mudar o nome do Piano Piano para Vivre, muitas pessoas me disseram que isso não traria boa sorte, que eu teria problemas com o barco, que isso que aquilo e, coincidência ou não, o último dia em que tive algum serviço entregue dentro do prazo foi o dia em que o antigo nome do barco foi lixado do casco e desapareceu, a partir daí só atrasos, chuvas, falta de grana, parecia que o universo conspirava contra, mais por falta de grana mesmo. Então fui procurar saber como me livrar da maldição da troca de nome, porque da falta de grana eu já estava cuidando, e descobri um ritual para a troca de nome, se você é supersticioso e pretende trocar o nome do seu barco pare de ler aqui mesmo, se continuar você pode mudar de ideia.
De acordo com a lenda, Netuno tem um livro com o nome de todos os barcos que andam em sua jurisdição, o mar, não sei se os jet skis constam neste livro ou em um caderninho de anotações qualquer largado na escrivaninha do deus dos mares, fato é que quando se troca o nome da embarcação cria-se uma confusão no tal livro, e Netuno como toda pessoa organizada, quando fica em dúvida destrói o motivo da confusão, neste caso, afundando o barco que não consta no tal livro, então é necessário fazer o ritual para que Netuno risque o nome antigo do barco e escreva o novo nome evitando assim que seu barco tenha problemas burocráticos com os deuses, para isso é necessário seguir os seguintes passos:
1º - Preencher o formulário núm.... Não esse é o ritual da marinha mesmo, aconselho um bom despachante náutico.

1º - Retirar de dentro do barco tudo que tenha o antigo nome, coletes, boias, enfeites, documentos etc...
2º - O comandante da embarcação deve se fantasiar de Netuno, cuidado com essa parte, as pessoas podem achar que você enlouqueceu ou mudou de time, e de posse de uma garrafa de champanhe pronunciar em voz alta as seguintes palavras:
Nunca confunda o Aquaman com Netuno
 OH PODEROSO NETUNO, DEUS DOS MARES E PROTETOR DOS MARINHEIROS, PEÇO HUMILDEMENTE QUE RISQUE DE TEU LIVRO O NOME DO [DIZER O ANTIGO NOME DO BARCO] QUE JÁ NÃO MAIS HABITA SEU REINO, PEÇO-LHE TAMBÉM QUE RECEBA E PROTEJA O [DIZER O NOVO NOME DO BARCO] QUE A PARTIR DE AGORA FREQUENTARÁ SUA CASA.
Ao fim destas palavras jogue um pouco da champanhe no deck e beba o resto, claro que oferecer um churrasco para os amigos também agradaria o deus dos mares.

Eu não fiz o ritual, mesmo assim, quando resolvi o problema de grana, as coisas começaram a andar novamente, por via das dúvidas não tenho nada com o antigo nome dentro do Vivre, e mantenho uma pequena imagem impressa de N. Sra dos Navegantes que já me basta.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

HISTÓRIAS DO MAR.

Uma das melhores coisas que a tecnologia trouxe, foi aproximar pessoas com interesses comuns, já faz um tempo que participo de um grupo de velejadores no WhatsApp, e  foi nesse grupo que eu tive o prazer de ler uma das histórias mais bonitas que eu já li, e o melhor foi um caso verídico, agradeço ao Aurélio Paiva por me contar essa pérola que agora tenho prazer de compartilhar com vocês:


"Eu tinha uma propriedade no Saco da Velha, próximo a Paraty-mirim, por onde pegávamos o barco para atravessar.
Ventava muito, tipo 30 nós noroeste, eu e minha esposa chegamos e logo fomos ao portinho, lá chegando encontramos uma cena horripilante, um Fast 345 em rota de colisão com as pedras, panos em cima flamulando, cabos chicoteando para todos os lados...
...Uma catástrofe iminente.
De onde estávamos dava pra ver o pânico do casal que estava a bordo e um bote inflável vindo de lá em direção ao pier na maior folga, estranhei claro, e no meu instinto salvador fui logo de encontro ao bote para saber porque não tinha socorrido o casal. O SAFADO negou socorro porque o comandante do veleiro não podia pagar R$ 1000,00 naquele momento, não pensei duas vezes, deu um empurrão no safado que caiu nas pedras e enquanto ele tentava se levantar eu sequestrei o bote e saí em direção ao veleiro desgovernado, o vento estava tão forte que eu não podia dar velocidade no bote, ele navegava de lado e o Fast em rota de colisão com as pedras...
Cheguei junto com o primeiro impacto, amarrei o bote no guarda mancebo mesmo e pulei a bordo, o que eu vi dentro do veleiro foi de cortar o coração, um casal de velhinhos apavorados só esperando a morte, corri e peguei os estofados do barco para proteger o casco, mandei o casal para dentro da cabine e passei a mão em uma faca para cortar os cabos que impediam as velas de arriar. Dentro da cabine estava um horror, tudo espalhado e o zunido alto do vento deixava tudo mais apavorante ainda, e as porradas nas pedras... Meu Deus! Finalmente consegui cortar o adriça que estava prendendo a mestra e o pano caiu sobre mim, alívio imediato, as pancadas diminuíram bastante, foi quando escutei uma gritaria, olhei entre os borrifos e vi um barco azul e branco, as cores da bandeira de Ubatuba, aproado para o Fast e gritando para eu pegar o cabo. Eu só ouvia o barulho do motor em alta rotação indo e vindo e nesse vai e vem consegui pegar a ponta do cabo e meti no cabresto... Logo senti o tranco da puxada.
Naquele momento consegui ler o nome do barco salvador, era o pesqueiro Lua Cheia, vendo aquele bruta barco nos afastando daquele terror sentei na proa e chorei, chorei como criança.
O Lua cheia nos rebocou até a ilha da Preguiça, um super abrigo, lá soltei a âncora que estava toda enrolada nos cabos e fundeei o Fast em segurança, os velhinhos assustados me perguntaram quanto custaria aquela operação toda, na hora retruquei:
- Imagina que eu vou lhes cobrar!!! Jamais. Isso ele falou quando eu estava aduchando os cabos e colocando ordem no convés.
Então, senti a mão da senhorinha no meu ombro e com a voz ainda trêmula me disse:
- Foi Deus que te mandou aqui meu filho.
O velho já muito mais calmo do que a esposa disse:
- Pode deixar que eu arrumo o resto!
Não queria olhar diretamente para eles, sabia que iria me emocionar de novo, mas não tinha mais como adiar e levantei a cabeça com o choro na garganta e abracei os dois como se fossem meus avós. Nessa hora, a tripulação do Lua Cheia parou a contra-bordo e vieram me dar os parabéns, percebi que minha esposa, barrigudinha de nossa primeira filha, estava a bordo do pesqueiro e tinha assistido a tudo, foi ela que em terra procurou ajuda e encontrou o Lua Cheia, na verdade foi ela quem nos salvou.
O Fast 345 do Rio de Janeiro, nada sofreu, um tanque de guerra, só teve arranhões, já o estofamento ficou em pedaços lá nas pedras mesmo.
O Velhinho me deu um UÍSQUE JEHU, a coisa mais gostosa que já tomei, e a velhinha o ABRAÇO mais gostoso que já senti!"


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O SACO DA RIBEIRA É POR AQUI? PARTE II

Bem, no post anterior falei que levei uma turma de amigos do meu filho mais velho para a praia do Sul, lá na ilha Anchieta e que não tracei a rota e nem levei GPS porquê conheço muito bem a rota, terminei o post falando que enquanto o pessoal se divertia na praia eu fiquei no Vivre preparando um almoço e percebi que o tempo fechava cada vez mais.

Com a mesa posta no veleiro dei um longo assovio e a turma entendeu que estava na hora de matar a fome, rapidinho já estavam embarcados e todos comendo, por conta do tempo feio nem esperei que terminassem de se ajeitar na mesa e já levantei o ferro e parti, acho muito gostoso navegar enquanto a tripulação dorme ou esta a mesa, me da uma sensação gostosa, umas 2 horas a motor deveria ser o suficiente para estarmos seguros na praia do Flamengo.

Trinta ou quarenta minutos após nossa partida todos já tinham terminado de almoçar e cada um dormia numa cama do barco, e de repente, do nada mesmo, caiu uma espessa neblina que quase não me deixava ver a ilha, tudo que eu consegui enxergar era um vulto gigante que eu sabia ser a ilha Anchieta, naveguei, calma e tranquilamente, sozinho lá no cockipt, em um daqueles momentos que a gente relaxa bastante no leme e só espera a chegado ao destino, foi ai que percebi um vulto que achei ser a ilha das cabras; não pode ser pensei comigo, como eu passei o boqueirão sem perceber, corri para dentro do Vivre e peguei a bússola que ainda não esta instalada na antepara, lugar onde deveria estar, confirmei que estava na rota errada, e junto com essa descoberta o mar encarneirou  muito e assim que aproei para o boqueirão o motor começou a caturrar (quando o hélice sai fora da água), preocupado conferi o combustível, tinha combustível suficiente, mas por via das dúvidas desliguei o motor, acordei o Willyan sem que os outros percebessem e ele tomou o controle do barco, coloquei o colete e fui na proa deixar a genoa pronta para subir caso houvesse algum problema no motor, a mestra já estava rizada e decidi que assim ficaria, dispensei o Willyan que voltou a dormir.

Naveguei 20 ou 30 minutos fora da rota, isso dobra quando se tem que voltar. O percurso foi muito incômodo, incômodo para mim porque a criançada estava dormindo e nem perceberam que tínhamos tomado uma bela perdida, nem viram que eu larguei a cana de lema para ir preparar a genoa, quando um deles acordava e olhava para mim sempre encontravam um sorriso e um: Fica de boa ai que é só o mar um pouco agitado. Acho que consegui passar segurança para a tripulação, mas confesso que fiquei com um pouco de medo, principalmente quando, por conta da neblina, percebi muito em cima da hora que estava perto demais de uma rede de pesca, uns 50 metros da bandeira, o Vivre lambeu a boia da bandeira, mas não se enroscou.

O mar não perdoa arrogância e gosta de punir os que se acham donos da situação, nunca imaginei que pudesse tomar uma perdida dessa, aquela região é o meu quintal, é tudo que conheço de verdade do mar e me sinto seguro lá, mesmo assim permiti que a neblina me colocasse na rota errada, mas aprendi a lição, traçar a rota e ficar de olho na bússola é requisito para largar a poita, meu GPS também nunca mais fica em casa.

O outro lado dessa experiência foi navegar em situação de tempo ruim, posso dizer que foi marcante, ultimamente todas as minhas velejadas estão sendo muito especiais, cada uma com novas lições e emoções diferentes. Emoção, deve ser esse o princípio ativo que causa a dependência da vela. E a tripulação, mesmo com o tempo ruim, mar grosso, visibilidade bastante prejudicada e um frio de rachar, conseguiram manter a moral alta dentro do barco, ninguém reclamou de nada, quando eu falei que fiquei triste pois queria um dia mais quente para eles curtirem mais a resposta foi um sonoro "que nada Walnei a experiência tá ótima", quando o tédio batia eles dormiam para driblar o desânimo, parabéns a minha mais nova tripulação, espero tê-los novamente no convés do Vivre.

Gabriel, Lukas e Flávia, espero realmente que tenham gostado e que voltem para velejar sempre, mas que durmam menos (todos eles dormiram das 20h as 10hs, ou seja 14 horas) e passem um dia gostoso de sol para aproveitarem melhor a velejada.

Apesar de tudo foi muito divertido, e como eu aprendi com o mestre Juca, se está divertido esta certo!




GALERIA:
Lukas, Gabriel e Willyan.

A Tímida Flávia, ela crê que se mostrar o rosto na foto sua alma será capturada.

Foto da foto.



terça-feira, 20 de outubro de 2015

O SACO DA RIBEIRA É POR AQUI? PARTE I

Este final de semana foi muito legal pra mim, levei meu filho mais velho e uma turma de amigos dele para velejar. Achei que seria uma maneira de conhecer um pouco mais sobre os amigos do Willyan, sabe aquele ditado, diga-me com quem andas que direi quem és, pois bem, gostei do que vi, uma turma tranquila, focada nos estudos e no futuro, bem educados, inteligentes e dinâmicos, faz até a gente pensar que em um futuro bem próximo teremos um país melhor.

Praia do Sul
Na quinta-feira a previsão era de ondas grande, ventos na casa do 10 nós e vagas bem espaçadas, pelos avisos da marinha concluí que estávamos cercados por mau tempo, tinha ressaca pra cima e mar muito agitado com ventos fortes a leste e ao sul, sabia que teríamos reflexos na nossa área mas considerei que não seria perigoso, incômodo talvez.

O bote "de verdade" que esta em casa não cabe no porta-malas do carro, então sabia que teria que nadar até o Vivre pegar o bote que fica lá dentro, um excursion 3 da Intex , encher e trazer até a praia, já fiz isso algumas vezes, da primeira vez fui no braço mesmo e descobri que nadar 800mts já não dá pra mim, agora quando vou até o barco nadando vou com um colete e nadadeiras, em 5 minutos embarco.

Chegamos na praia da Ribeira por volta das 4hs da manhã, enquanto eu tirava um cochilo ali na areia da praia mesmo a criançada (desculpem turminha mas 18 anos pra mim ainda é criançada) explorava os cantos da praia com disposição e curiosidade típicas da juventude. As 6hs da manhã eles me acordaram, queriam embarcar logo e eu tinha prometido que pegaria o bote assim que o sol nascesse, pensa na preguiça que deu entrar na água as 6 da manhã de um dia frio e com uma garoa fina caindo, mas para minha alegria a água estava numa temperatura confortável.

Pronto, todos embarcados, Eu, o Willyan, o Lukas, a Flávia e o Gabriel (que ficaram de me enviar umas fotos para colocar no blog mas acho que ficaram com vergonha), ficamos batendo papo no barco até as 11hs para ver se o tempo abriria, e não abriu, eles queriam ir para a praia do Sul, achei legal pois lá é fácil de ir, conheço a rota como a palma da minha mão, a praia do Sul é o destino de mais de metade dos passeios com amigos e família, adoro aquele lugar, então nem precisei traçar a rota, o GPS deixei em casa mesmo, não iria precisar dele. Motoramos até o boqueirão, de repente, para alegria dos tripulantes os golfinhos apareceram nadaram bem perto do Vivre mas só dava pra ver as barbatanas, vi quando ele viraram todos em direção ao barco, achei que chegariam bem perto, mas sumiram. Assim que os golfinho foram embora entrou o vento da previsão, pouco  acima de 10 nós.

A hora de mostrar para a turma como é bom velejar tinha chegado, ajeitei a turma para trimar o Vivre e subi todo o pano, quem acompanha o blog sabe que alguns meses atrás eu não teria coragem de fazer isso, hoje me senti confortável, fomos velejando até nosso destino, todos desembarcaram menos eu, o Willyan levou todos de bote até a praia, se divertiram bastante mesmo com o tempo frio e eu lá preparando o almoço. Enquanto prepara a mesa e higienizava os pratos e talheres eu fiquei olhando para o tempo e vi que ele estava piorando muito, estava escurecendo cada vez mais  e as nuvens já cobriam completamente o sol, mal sabia eu que minha confiança no conhecimento da rota me colocaria em um armadilha...


O resto desta história você confere no próximo post!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (VÍDEO)

Como já é tradição em nosso blog, reuni algumas fotos e compilei em um filme rapidinho.


Os posts contando as histórias deste filme estão nos links abaixo
1ª Parte
2ª Parte
3ª Parte
4ª Parte
5ª Parte

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

DEMOCRACIA NAVAL!

Barco não tem democracia, tem ditadura, quem manda no barco é o comandante e ponto final.

Quando recebo visitas que não conhecem a rotina de um barco dou uma aulinha sobre como se comportar no barco, a parte mais chata é quando digo que se eu mandar sentar, tem que sentar, se eu mandar levantar tem que levantar, se eu mandar mudar de lado tem que mudar, e tem que fazer rápido, explico ainda que não faço por mal, mas que a agilidade em obedecer as minha ordens pode evitar acidentes como uma retrancada na cabeça por exemplo.

Claro que não me torno um monstro mandão e mal-humorado, pelo contrário fico muito feliz em receber visitas no Vivre, nem fico falando faça isso, faça aquilo, saia daí, nada disso, mas se precisar as visitas estão avisados que devem ser rápidos e não contestar.

Certa vez (propositalmente deixei passar um bom tempo para postar isso) fomos eu e um amigo velejar um pouco pela enseada do Flamengo, divido o governo do barco, mas nunca o comando, e o amigo em questão sempre aproava o barco para as pedras, mais próximo do que eu me sinto confortável, na primeira vez avisei: cara muda o rumo, se afasta bem das pedras, fui atendido imediatamente, mais um tempinho e lá estava o Vivre rumando para perto demais das pedras novamente, então já argumentei: cara, se afasta das pedras, se acontece algum imprevisto temos tempo para resolver a situação, novamente fui atendido, na terceira vez nem falei nada, meti a mão na cana de leme e coloquei o barco em um rumo que se distanciava da costa, logo depois soltei a cana de leme e repeti: cara se acontece algum imprevisto temos tempo para resolver a situação, pronto não tive mais problemas com isso.

Fui chato? Fui.
Fui grosso pra caramba? Fui.
Fui correto? Acho que fui.

O climinha que pintou logo passou assim que devolvi o governo do barco para a pessoa e entrei na cabine para fazer alguma coisa, fiquei lá uns 10 minutos e quando voltei já não se falava mais naquilo, o barco não mais quis se aproximar da costa e o episódio logo foi esquecido (mas ficou registrado).

O Amigo em questão é muito querido, com certeza vai se identificar ao ler esse post, mas tenho certeza de que não vai ficar bravo, afinal ele também tem barco, uma lancha, e lá o comandante é ele, conhece bem o equipamento e suas limitações, de Vivre entendo eu.

As vezes chatice é necessário!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (PARTE 5)

As partes anteriores deste post estão nos links abaixo:
1ª Parte
2ª Parte
3ª Parte
4ª Parte  

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Antes de começar este post, tenho que passar um conceito de física dos líquidos,

Um sifão é um dispositivo no formato de tubo, usado para remover líquidos de um recipiente, como mostra a Fig. 1, ou para transferir líquido de um recipiente para outro. Para iniciar o escoamento, o sifão deve estar preenchido por líquido que, uma vez em contato com o líquido do reservatório, escoará até que ocorra o nivelamento deste com a abertura do tubo.


 Retirei este trecho do site da REVISTA BRASILEIRA DE FÍSICA, de um artigo chamado TRANSFERÊNCIA DE FLUÍDO POR MEIO DE SIFÃO VS. APLICAÇÃO DA EQUAÇÃO DE BERNOULLI, o texto pode ser lido na integra AQUI.

Agora sim, posso continuar a contar minha história.

Como falei no post anterior, estava com um motor quebrado, tinha saído de um encalhe, encontrei o triângulo da vela, limpei o casco do Vivre e depois disso fiquei com o dia livre. É legal ficar a toa no barco, dá pra refletir sobre muita coisa, acho que o balanço do mar ativa a parte do cérebro que cuida da reflexão e da meditação, é maravilhoso.

Resolvi fazer um bom almoço com os ingredientes que eu tinha na geladeirinha do Vivre, almoço feito, consumido, sobrou a louça para ser lavada o que foi feito logo após uma sesta.

No início da tarde o Vivre já estava arrumadinho e fui preparar o barco para a travessia, por conta do vento, da maré e da minha vontade de velejar a noite eu tinha decidido que levantaria âncora as 3:00hs da manhã, dei uma geral nas velas, nas adriças, nas escotas, nas luzes de navegação, ABASTECI O MOTORZINHO DO VIVRE pois a ideia era sair da enseada de Ubatuba a motor e dai pegar um través até onde fosse possível, verifiquei o nível de combustível no tanque, tinha combustível mais do que suficiente, tudo pronto e o barco parecia ansioso para ser solto no mar, claro, eu também não podia me aguentar, então resolvi adiantar a viagem e abri a carta náutica, comecei a traçar a rota e passar os pontos para o GPS, plotei um ponto no meio da enseada, outro bem distante da Ponta Grossa, onde eu pretendia subir todo o pano, e outro ponto no través da Ilha das Cabras, olha ai os waypoints:

ENSEADA DE UBATUBA: 23º26.000`S / 45º02.000`W
PONTA GROSSA:  23º28.000`S / 45º00.000`W
ILHA DAS CABRAS: 23º31.000`S / 45º04.000`W

Só estes pontos me bastaram, da Ilha das Cabras até a poita o Vivre faz sozinho.

Por volta das 19:00h me deitei para ver se dormia um pouco, estava um friozinho muito bom para tirar um cochilo, estou conseguindo dormir melhor quando o Vivre esta na âncora, e isso não é bom, portanto, programei o celular para despertar de hora em hora, e as 2h da manhã eu iria levantar de vez e dar mais uma conferida no barco e aguardar até as 3h para levantar âncora. Assim foi, de hora em hora eu dava uma espiada no fundeio para ver se estava tudo bem, as 2 da manhã me levantei, dobrei as cobertas, fiz um cappuccino, lembrei no presente de casamento de novo, a roupa para a travessia já estava separada, um casaco bem grosso, uma camiseta de manga comprida, calça de moletom, meias, um tênis tipo iate com a sola bem macia, um "boné de orelha" que ganhei no dia dos país de 2013 e um colete salva-vidas tamanho G por cima de tudo.

Antes de sair dei aquela conferida em tudo, cabos, velas, GPS, Rádio, dei partida no motorzinho deixei ele esquentando um pouquinho, vento não tinha, mas eu esperava que ele aparecesse, tudo pronto, visto, revisto e conferido, subi a mestra e recolhi a âncora. Em algum post perdido no meios dos mais de 140 posts desse blog eu perguntei se é correto navegar de vela e motor, hoje eu sei a resposta, dependendo do vento vou só de mestra, pois ir contra o vento com a genoa aberta faz com que ele fique panejando, se a direção e velocidade do vento forem suficientes para inflar a genoa abro ela também. Estava uma noite clara, dava para ver tudo, mas a noção de distância da costa é diferente quando esta de noite, por isso eu fui seguindo o GPS, queria chegar logo no ponto que marquei lá na Ponta Grossa, um terralzinho começou a soprar tímido e com isso a temperatura caiu mais um pouco, pensei em arrumar uma balaclava, aquela touca tipo ninja, para a próxima travessia noturna, faltando mais ou menos meia milha para atingir o ponto marcado no GPS, o combustível do tanque do motorzinho acabou, já esperava isso, peguei a mangueira do tanque maior para fazer a transferência, bombeei a perinha alguma vezes e nada de gasolina, achei estranho, sabia que o tancão estava cheio, achei que poderia ser a posição, fui ajeitar o tancão e percebi que ele estava VAZIO, sim, na hora me toquei do que tinha acontecido, quando enchi o tanque do motorzinho no dia anterior eu amarrei a ponta da mangueira, mas ela escapou e eu não percebi e ai o texto lá no começo deste post provou que funciona mesmo, pelo efeito sifão a gasolina foi toda pro mar durante a noite, PUTZ, não sei se fiquei mais bravo pela burrice de deixar isso acontecer, pela burrice de conferir tudo e não perceber que o tanque estava vazio ou se por deixar a gasolina vazar na água, ainda vou dar um jeito de reparar essa agressão que causei ao mar, pensei que plantar uma árvore daria um compensada na situação, e ai a cena se resume ao seguinte: no meio do mar bem longe da costa, graças a Deus e as lições aprendidas com o Stark, sem uma gota de combustível, um vento fraquinho fraquinho e o Walneizinho sentado no cockipt acendendo um cigarro para pensar no que fazer, quando você mantém a calma, metade do problema já esta resolvido, pensei em continuar a vela até a Ribeira, mas não achei prudente, então, decidi voltar.

O vento que era de popa agora era contra e estava fraquinho, sabia que isso ia demorar, que teria que fazer vários bordos, me vesti com a paciência dos homens do mar, respirei fundo e fui na proa para desatar e subir a genoa, estava voltando para o triangulo da vela.

O Vivre não é um barco rápido, mas tem uma característica que acho fantástica e aprecio muito mesmo, qualquer soprinho de vento empurra o barco a 1,5 nós, tenho a impressão que se a criançada for lá na proa e começar a assoprar a vela o barco anda, meu barquinho realmente foi feito pra mim.

O astro rei nascendo na popa do Vivre.
Assim que ele nasceu os golfinhos chegaram.
Lembra que eu falei que tinha apanhado um pouco no vento contra na saída da Ribeira, pois é agora não apanhei nada, fiz direitinho, cada bordo executado sem muito esforço, posso dizer que foi perfeito. Velejar com um bom vento  é gostoso demais, porém, conseguir tirar o máximo do barco com um ventinho de mais ou menos 3 nós é uma coisa que realmente da a sensação de vitória, satisfação pessoal, alegria, como eu disse, veleiros sempre oferecem uma oportunidade de você se sentir bem.

Entre um bordo e outro uma selfie, vejam o motorzinho
levantado para diminuir o arrasto.
De mansinho o vento foi aumentando e ficando dentro da previsão do windguru que era de 6 nós, mas a previsão errou feio na direção, pode ser por conta da geografia da enseada. As 6h mais ou menos a melhor surpresa do dia, acho que foi um premio por fazer tudo direitinho (tirando o fato de deixar acabar a gasolina), já dentro da enseada vi alguns golfinhos, e mais, e mais, e mais, eram uns 5 ou seis bandos de 4 ou 5 golfinhos cada bando, fantástico, tentei tirar algumas fotos e até fiz um filme, mas não dá pra ver direito os bichinhos por isso não postei o vídeo, assim que decidi deixar os golfinhos e voltar a atenção para a velejada, afinal o vento poderia acabar a qualquer momento e eu tinha que chegar no ancoradouro, desliguei a câmera do celular e imediatamente após isso não é que um golfinho da um lindo salto, por muito pouco não consigo filmar, vai ficar como história de velejador né?

O Acrux e seu parceiro Edmur
Pronto, as 9h estava de novo no triangulo das velas, me preparei e fui comprar combustível, remando, e muito, comprei a gasolina e dei uma paradinha na padaria para tomar outro café.

Foto de autoria do Edmur
Voltei remando também, assim que cheguei no barco o Edmur do Acrux me chamou pelo nome, e disse que acompanha o blog desde antes de comprar o Acrux, fico muito feliz quando isso acontece, mas também fico envergonhado, acho que não escrevo bem, confundo desse com deste, porque, por que e por quê,  acho que uso muitas virgulas, crase então, vira e mexe tenho dúvidas, mesmo assim insisto em escrever. Gostaria de agradecer o Edmur pelo carinho que demonstrou por mim, pelo blog e pelo Vivre, ele fez uma coisa que ainda não tinha acontecido, tirou fotos do vire enquanto eu saia da poita com os panos em cima, fiquei rodeando o Acrux, só com as velas, enquanto conversava com o Edmur, trocamos telefones, ele me incluiu no grupo do WhatsApp da Flotilha Itaguá e depois me enviou as fotos pelo grupo, foi demais.

outra foto que o Edmur tirou, adorei essa!
Voltei para a Ribeira usando o motor, quando cruzei o Boqueirão e aproei para o meio da enseada do Flamengo, outro presente de Éolo, um bom vento  pelo través de boreste, desliguei o motor e subi a genoa, atingi 4 nós só com a força do vento, que nem era tão forte assim, é acho que estou melhorando muito, to subindo de fase a cada velejada, depois de uns 30 minutos liguei o motor também e ganhei mais 2 nós e as 14:40hs estava na poita.

Velejar de meias, calça comprida,
camisa de manga comprida e boné
proteje do sol!

Fechei a gaiuta principal do Vivre cheio de histórias e ansioso para começar a escrever logo os posts, minha cabeça já começava a escolher as palavras para conseguir contar as grandes emoções que passei entre os dias 30/07 até 02/08 de 2015. Confesso que durante a viagem de volta pra casa foi muito difícil manter a concentração na estrada, não conseguia deixar de pensar nos incríveis momentos que vivi a sós com o Vivre!