quinta-feira, 20 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (VÍDEO)

Como já é tradição em nosso blog, reuni algumas fotos e compilei em um filme rapidinho.


Os posts contando as histórias deste filme estão nos links abaixo
1ª Parte
2ª Parte
3ª Parte
4ª Parte
5ª Parte

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

DEMOCRACIA NAVAL!

Barco não tem democracia, tem ditadura, quem manda no barco é o comandante e ponto final.

Quando recebo visitas que não conhecem a rotina de um barco dou uma aulinha sobre como se comportar no barco, a parte mais chata é quando digo que se eu mandar sentar, tem que sentar, se eu mandar levantar tem que levantar, se eu mandar mudar de lado tem que mudar, e tem que fazer rápido, explico ainda que não faço por mal, mas que a agilidade em obedecer as minha ordens pode evitar acidentes como uma retrancada na cabeça por exemplo.

Claro que não me torno um monstro mandão e mal-humorado, pelo contrário fico muito feliz em receber visitas no Vivre, nem fico falando faça isso, faça aquilo, saia daí, nada disso, mas se precisar as visitas estão avisados que devem ser rápidos e não contestar.

Certa vez (propositalmente deixei passar um bom tempo para postar isso) fomos eu e um amigo velejar um pouco pela enseada do Flamengo, divido o governo do barco, mas nunca o comando, e o amigo em questão sempre aproava o barco para as pedras, mais próximo do que eu me sinto confortável, na primeira vez avisei: cara muda o rumo, se afasta bem das pedras, fui atendido imediatamente, mais um tempinho e lá estava o Vivre rumando para perto demais das pedras novamente, então já argumentei: cara, se afasta das pedras, se acontece algum imprevisto temos tempo para resolver a situação, novamente fui atendido, na terceira vez nem falei nada, meti a mão na cana de leme e coloquei o barco em um rumo que se distanciava da costa, logo depois soltei a cana de leme e repeti: cara se acontece algum imprevisto temos tempo para resolver a situação, pronto não tive mais problemas com isso.

Fui chato? Fui.
Fui grosso pra caramba? Fui.
Fui correto? Acho que fui.

O climinha que pintou logo passou assim que devolvi o governo do barco para a pessoa e entrei na cabine para fazer alguma coisa, fiquei lá uns 10 minutos e quando voltei já não se falava mais naquilo, o barco não mais quis se aproximar da costa e o episódio logo foi esquecido (mas ficou registrado).

O Amigo em questão é muito querido, com certeza vai se identificar ao ler esse post, mas tenho certeza de que não vai ficar bravo, afinal ele também tem barco, uma lancha, e lá o comandante é ele, conhece bem o equipamento e suas limitações, de Vivre entendo eu.

As vezes chatice é necessário!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (PARTE 5)

As partes anteriores deste post estão nos links abaixo:
1ª Parte
2ª Parte
3ª Parte
4ª Parte  

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Antes de começar este post, tenho que passar um conceito de física dos líquidos,

Um sifão é um dispositivo no formato de tubo, usado para remover líquidos de um recipiente, como mostra a Fig. 1, ou para transferir líquido de um recipiente para outro. Para iniciar o escoamento, o sifão deve estar preenchido por líquido que, uma vez em contato com o líquido do reservatório, escoará até que ocorra o nivelamento deste com a abertura do tubo.


 Retirei este trecho do site da REVISTA BRASILEIRA DE FÍSICA, de um artigo chamado TRANSFERÊNCIA DE FLUÍDO POR MEIO DE SIFÃO VS. APLICAÇÃO DA EQUAÇÃO DE BERNOULLI, o texto pode ser lido na integra AQUI.

Agora sim, posso continuar a contar minha história.

Como falei no post anterior, estava com um motor quebrado, tinha saído de um encalhe, encontrei o triângulo da vela, limpei o casco do Vivre e depois disso fiquei com o dia livre. É legal ficar a toa no barco, dá pra refletir sobre muita coisa, acho que o balanço do mar ativa a parte do cérebro que cuida da reflexão e da meditação, é maravilhoso.

Resolvi fazer um bom almoço com os ingredientes que eu tinha na geladeirinha do Vivre, almoço feito, consumido, sobrou a louça para ser lavada o que foi feito logo após uma sesta.

No início da tarde o Vivre já estava arrumadinho e fui preparar o barco para a travessia, por conta do vento, da maré e da minha vontade de velejar a noite eu tinha decidido que levantaria âncora as 3:00hs da manhã, dei uma geral nas velas, nas adriças, nas escotas, nas luzes de navegação, ABASTECI O MOTORZINHO DO VIVRE pois a ideia era sair da enseada de Ubatuba a motor e dai pegar um través até onde fosse possível, verifiquei o nível de combustível no tanque, tinha combustível mais do que suficiente, tudo pronto e o barco parecia ansioso para ser solto no mar, claro, eu também não podia me aguentar, então resolvi adiantar a viagem e abri a carta náutica, comecei a traçar a rota e passar os pontos para o GPS, plotei um ponto no meio da enseada, outro bem distante da Ponta Grossa, onde eu pretendia subir todo o pano, e outro ponto no través da Ilha das Cabras, olha ai os waypoints:

ENSEADA DE UBATUBA: 23º26.000`S / 45º02.000`W
PONTA GROSSA:  23º28.000`S / 45º00.000`W
ILHA DAS CABRAS: 23º31.000`S / 45º04.000`W

Só estes pontos me bastaram, da Ilha das Cabras até a poita o Vivre faz sozinho.

Por volta das 19:00h me deitei para ver se dormia um pouco, estava um friozinho muito bom para tirar um cochilo, estou conseguindo dormir melhor quando o Vivre esta na âncora, e isso não é bom, portanto, programei o celular para despertar de hora em hora, e as 2h da manhã eu iria levantar de vez e dar mais uma conferida no barco e aguardar até as 3h para levantar âncora. Assim foi, de hora em hora eu dava uma espiada no fundeio para ver se estava tudo bem, as 2 da manhã me levantei, dobrei as cobertas, fiz um cappuccino, lembrei no presente de casamento de novo, a roupa para a travessia já estava separada, um casaco bem grosso, uma camiseta de manga comprida, calça de moletom, meias, um tênis tipo iate com a sola bem macia, um "boné de orelha" que ganhei no dia dos país de 2013 e um colete salva-vidas tamanho G por cima de tudo.

Antes de sair dei aquela conferida em tudo, cabos, velas, GPS, Rádio, dei partida no motorzinho deixei ele esquentando um pouquinho, vento não tinha, mas eu esperava que ele aparecesse, tudo pronto, visto, revisto e conferido, subi a mestra e recolhi a âncora. Em algum post perdido no meios dos mais de 140 posts desse blog eu perguntei se é correto navegar de vela e motor, hoje eu sei a resposta, dependendo do vento vou só de mestra, pois ir contra o vento com a genoa aberta faz com que ele fique panejando, se a direção e velocidade do vento forem suficientes para inflar a genoa abro ela também. Estava uma noite clara, dava para ver tudo, mas a noção de distância da costa é diferente quando esta de noite, por isso eu fui seguindo o GPS, queria chegar logo no ponto que marquei lá na Ponta Grossa, um terralzinho começou a soprar tímido e com isso a temperatura caiu mais um pouco, pensei em arrumar uma balaclava, aquela touca tipo ninja, para a próxima travessia noturna, faltando mais ou menos meia milha para atingir o ponto marcado no GPS, o combustível do tanque do motorzinho acabou, já esperava isso, peguei a mangueira do tanque maior para fazer a transferência, bombeei a perinha alguma vezes e nada de gasolina, achei estranho, sabia que o tancão estava cheio, achei que poderia ser a posição, fui ajeitar o tancão e percebi que ele estava VAZIO, sim, na hora me toquei do que tinha acontecido, quando enchi o tanque do motorzinho no dia anterior eu amarrei a ponta da mangueira, mas ela escapou e eu não percebi e ai o texto lá no começo deste post provou que funciona mesmo, pelo efeito sifão a gasolina foi toda pro mar durante a noite, PUTZ, não sei se fiquei mais bravo pela burrice de deixar isso acontecer, pela burrice de conferir tudo e não perceber que o tanque estava vazio ou se por deixar a gasolina vazar na água, ainda vou dar um jeito de reparar essa agressão que causei ao mar, pensei que plantar uma árvore daria um compensada na situação, e ai a cena se resume ao seguinte: no meio do mar bem longe da costa, graças a Deus e as lições aprendidas com o Stark, sem uma gota de combustível, um vento fraquinho fraquinho e o Walneizinho sentado no cockipt acendendo um cigarro para pensar no que fazer, quando você mantém a calma, metade do problema já esta resolvido, pensei em continuar a vela até a Ribeira, mas não achei prudente, então, decidi voltar.

O vento que era de popa agora era contra e estava fraquinho, sabia que isso ia demorar, que teria que fazer vários bordos, me vesti com a paciência dos homens do mar, respirei fundo e fui na proa para desatar e subir a genoa, estava voltando para o triangulo da vela.

O Vivre não é um barco rápido, mas tem uma característica que acho fantástica e aprecio muito mesmo, qualquer soprinho de vento empurra o barco a 1,5 nós, tenho a impressão que se a criançada for lá na proa e começar a assoprar a vela o barco anda, meu barquinho realmente foi feito pra mim.

O astro rei nascendo na popa do Vivre.
Assim que ele nasceu os golfinhos chegaram.
Lembra que eu falei que tinha apanhado um pouco no vento contra na saída da Ribeira, pois é agora não apanhei nada, fiz direitinho, cada bordo executado sem muito esforço, posso dizer que foi perfeito. Velejar com um bom vento  é gostoso demais, porém, conseguir tirar o máximo do barco com um ventinho de mais ou menos 3 nós é uma coisa que realmente da a sensação de vitória, satisfação pessoal, alegria, como eu disse, veleiros sempre oferecem uma oportunidade de você se sentir bem.

Entre um bordo e outro uma selfie, vejam o motorzinho
levantado para diminuir o arrasto.
De mansinho o vento foi aumentando e ficando dentro da previsão do windguru que era de 6 nós, mas a previsão errou feio na direção, pode ser por conta da geografia da enseada. As 6h mais ou menos a melhor surpresa do dia, acho que foi um premio por fazer tudo direitinho (tirando o fato de deixar acabar a gasolina), já dentro da enseada vi alguns golfinhos, e mais, e mais, e mais, eram uns 5 ou seis bandos de 4 ou 5 golfinhos cada bando, fantástico, tentei tirar algumas fotos e até fiz um filme, mas não dá pra ver direito os bichinhos por isso não postei o vídeo, assim que decidi deixar os golfinhos e voltar a atenção para a velejada, afinal o vento poderia acabar a qualquer momento e eu tinha que chegar no ancoradouro, desliguei a câmera do celular e imediatamente após isso não é que um golfinho da um lindo salto, por muito pouco não consigo filmar, vai ficar como história de velejador né?

O Acrux e seu parceiro Edmur
Pronto, as 9h estava de novo no triangulo das velas, me preparei e fui comprar combustível, remando, e muito, comprei a gasolina e dei uma paradinha na padaria para tomar outro café.

Foto de autoria do Edmur
Voltei remando também, assim que cheguei no barco o Edmur do Acrux me chamou pelo nome, e disse que acompanha o blog desde antes de comprar o Acrux, fico muito feliz quando isso acontece, mas também fico envergonhado, acho que não escrevo bem, confundo desse com deste, porque, por que e por quê,  acho que uso muitas virgulas, crase então, vira e mexe tenho dúvidas, mesmo assim insisto em escrever. Gostaria de agradecer o Edmur pelo carinho que demonstrou por mim, pelo blog e pelo Vivre, ele fez uma coisa que ainda não tinha acontecido, tirou fotos do vire enquanto eu saia da poita com os panos em cima, fiquei rodeando o Acrux, só com as velas, enquanto conversava com o Edmur, trocamos telefones, ele me incluiu no grupo do WhatsApp da Flotilha Itaguá e depois me enviou as fotos pelo grupo, foi demais.

outra foto que o Edmur tirou, adorei essa!
Voltei para a Ribeira usando o motor, quando cruzei o Boqueirão e aproei para o meio da enseada do Flamengo, outro presente de Éolo, um bom vento  pelo través de boreste, desliguei o motor e subi a genoa, atingi 4 nós só com a força do vento, que nem era tão forte assim, é acho que estou melhorando muito, to subindo de fase a cada velejada, depois de uns 30 minutos liguei o motor também e ganhei mais 2 nós e as 14:40hs estava na poita.

Velejar de meias, calça comprida,
camisa de manga comprida e boné
proteje do sol!

Fechei a gaiuta principal do Vivre cheio de histórias e ansioso para começar a escrever logo os posts, minha cabeça já começava a escolher as palavras para conseguir contar as grandes emoções que passei entre os dias 30/07 até 02/08 de 2015. Confesso que durante a viagem de volta pra casa foi muito difícil manter a concentração na estrada, não conseguia deixar de pensar nos incríveis momentos que vivi a sós com o Vivre!







quinta-feira, 6 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (PARTE 4)

As partes anteriores deste post estão nos links abaixo:
1ª Parte
2ª Parte
3ª Parte

Acordei cedo, a cabine do Vivre estava uma bagunça, algumas ferramentas na pia, a louça estava suja, roupa espalhada, toalha molhada sobre a cama de proa e o motorzão deitado lá no cockpit, achei que poderia consertá-lo, tinha mais tempo e estava seguro no píer, dei uma bela arrumada na cabine, limpei a sujeira, estendi a toalha e as roupas ao sol, vira e mexe o Vivre vira varal, sempre tem roupa estendida nos postinhos ou na retranca. Preparei um belo café, sempre gosto muito de tomar café no barco, para mim é a melhor refeição do dia. Café tomado fui pra cima do motorzão, vi, olhei, pensei e percebi que não teria ferramentas para nem sequer tentar arrumá-lo, meus planos de ir até a enseada de Picinguaba tinham dado errado novamente, sem ter o que fazer acomodei o Mercury dentro da cabine de maneira que atrapalhasse menos possível, para quem conhece a cabine do cruiser 23 sabe que não sobrou muita espaço lá.

Não estava a fim de decidir nada naquele momento, resolvi esperar para traçar os novos planos após o almoço, ia ficar de bobeira dentro do Vivre, saquei meu radinho xing-ling sintonizei uma rádio qualquer e fiquei lá como um lagarto ao sol da manhã. De repente um bote amarelinho com duas pessoas surge lá na praia, era o Ricardo Stark e a Maria, sua esposa, reconheci de longe, pararam a contrabordo do Vivre e batemos uns 10 minutos de papo, finalmente tinha alguém para contar sobre a minha lua vermelha, mas os navegantes tinham pressa, a previsão de vento era curta e o Ricardo não perderia aquele rabinho de vento por nada.

O Ricardo já ia longe com o Gaipava quando o vento aumentou um bocadinho, pensei em sair e velejar um pouquinho, mas senti que o Vivre tinha um balanço diferente, percebi também que ele não estava aproado para o vento, o Vivre sempre aproa para o vento quando esta ancorado, olhei com medo para a praia e confirmei o que eu temia, a tal lua azul tinha secado o mar e a quilha estava no lodo, eu tinha encalhado pela segunda vez na vida (a primeira vez você pode ler aqui), liguei o motor e fiquei de pé no Vivre pelo lado de fora do guarda mancebo com a intenção de aderná-lo o máximo possível e livrar a quilha do lodo, não obtive sucesso, minha preocupação era que a maré baixasse mais e o Vivre ficasse no seco, corri no celular e fiz uma pesquisa na internet pela tábua das marés, para meu alívio aquela era a hora da baixa-mar (9:45 se não me engano) e o Vivre não corria o risco de ficar no seco, voltei para o cockpit com uma garrafa de água e algumas rosquinha e pude ouvir o dono de uma escuna falando para o tripulante: CUIDADO PARA NÃO ENCALHAR O BOTE, e caíram na risada, fazer o quê? Me diverti em ser o motivo dos risos, logo o bote do risonho estava ao meu lado perguntando se eu precisa de ajuda, respondi que iria esperar a maré subir e ofereci uns biscoitos, e fiquei lá, esperando. Trinta minutos depois a técnica de adernar o barco funcionou e pude sair do encalhe.

Enquanto procurava outro lugar para jogar ferro descobri o triângulo da vela e fui bem para o meio dele, o triângulo da vela é um local no Itaguá onde ficam o Gaipava do Ricardo, o Acrux do Edmur e o Papo de Popa do Hermes Pacine, três barcos que velejam com frequência e têm ótimos comandantes, se eles estavam lá, também eu ficaria lá.

No resto do dia fiquei á toa, decidi que sem o motorzão não iria mesmo para a Picinguaba, dormiria ali mesmo e sairia com vento para retornar ao Saco da Ribeira, acessei o windguru e vento acima de 5 nós somente entre as 3 e 9 da manhã, corri na tábua das marés e vi que as 3 horas a maré estaria vazando, portanto, um ótimo momento para zarpar, depois de decidir o que eu faria fui para água dar uma faxina nas cracas do meu valente barquinho, com tudo isso me esqueci de tirar algumas fotos durante o dia.

Eu iria velejar de noite, então peguei a carta náutica e marquei alguns pontos até o Boqueirão, três pontos somente, como sempre me mantendo bem distante da costa, passei os pontos para meu GPS, preparei o barco para a travessia e o resto eu conto no próximo post, inclusive como fiquei sem combustível no meio do percurso.

Continua...

Próximo post:
5ª Parte

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (PARTE 3)

As partes anteriores deste post estão nos links abaixo:
1ª Parte
2ª Parte

Depois de uma velejada deliciosa ate a Ponta das Tonihas o vento acabou, zerou mesmo, então liguei o motor e continuei na minha rota, atravessei quase toda a praia grande, e quando cheguei próximo a Ponta da Seritinga o motor caiu no ponto morto, sabe quando a gente acelera o carro e pisa na embreagem? Foi assim! Achei estranho o motor ter desengatado, dei uma olhada no braço do mercury 8 hp e descobri que estava engatado, olhei no hélice e ele estava virando, mas o barco perdeu o seguimento, nessa hora lembrei das palavras do Ricardo Stark "nunca veleje perto demais da costa" e por levá-las em consideração ao traçar minhas rotas, eu tinha tempo para fazer o que fosse necessário, na pior das hipóteses pedir uma feição (reboque) pelo rádio, aquela rota é movimentada e estava cheio de lanchas, veleiros e barcos de pesca, se necessitasse alguém me ajudaria, deixei o Vivre ao sabor das ondas, que estavam baixas e tirei a capa do motor, analisei daqui, analisei dali e enquanto analisava me aparece um cara de caique, o Ricardo que não era o Stark, perguntou se podia se aproximar, não achei que ele ofereceria risco e permiti que se aproximasse, enquanto mexia no motor fomos conversamos:
Este é o Ricardo, um aventureiro!
- Você esta vindo da onde? Esta bem longe da costa amigo. Disse eu para o inusitado remador.
- Estou vindo de Paraty com destino a Santos.
Parei o que estava fazendo para olhar melhor o rosto do Ricardo e ver se ele tinha mais cara de louco do que eu.
- Onde posso parar para pedir um prato de comida e pouso? Me perguntou.
- Olha, tem a Praia Grande aqui e as Toninhas lá, a praia grande é uma praia de muitas ondas, as Toninhas nessa ponta da direita é mais calminha, você deve  encontrar algo lá.
Quando eu era pequeno, minha mãe falava: "se quiser algo seja claro, não tenha vergonha e peça diretamente, sem rodeios, o máximo que vai acontecer é você ganhar um não", digo isso pois depois que o Ricardo foi embora pensei que ele poderia estar faminto, mas como ele não foi direto nem me toquei de lhe oferecer algo para comer. Vou pedir a permissão de vocês para mandar uma mensagem para o Ricardo Remador:

( RICARDO, SE VOCÊ ESTIVER LENDO ISSO, SAIBA QUE EU TINHA, BOLACHAS, BISCOITOS, UMA CAIXA DE BIS PELA METADE, CHÁ MATE SABOR LIMÃO, ÁGUA E  ATÉ MIOJO, ME DESCULPE, NÃO LHE OFERECI POIS ESTAVA COM UM MOTOR QUEBRADO E NÃO ME PASSOU PELA CABEÇA, MAS ERA SÓ VOCÊ PEDIR QUE EU ME TOCARIA, NA PRÓXIMA EU NÃO COMETEREI ESTA FALTA DE EDUCAÇÃO DE NOVO. )

Você pode acompanhar a aventura do Ricardo nesta página:
http://share.findmespot.com/shared/faces/viewspots.jsp?glId=0XS4kQKMnl3djPA7Aj1xsbNsv7NPgkyPS

Este pontinho VERMELHO é a lua.
Como eu queria que meu celular
conseguisse captar a visão que tive dela!
E assim o Ricardo foi embora com fome, e eu decidi trocar o motor. Sempre navego com dois motores, o motorzão, um Mercury de 8hp e o motorzinho, um Tohatsu de 3.5hp então foi só fazer a troca e seguir para o Itaguá, o problema é que já estava tarde, lá pelas 16:30h e o motorzinho ficou muito inclinado em relação ao espelho de popa, ele tinha uma peça que regulava esta inclinação, mas o Gabriel certa vez derrubou o bichinho e quebrou a peça, e como deixar as coisas para depois é um pecado mortal, lá estava eu pagando pelo meu pecado, fui bem devagar, coisa entre 1 e 1,5 nós, outro problema é que o tal motorzinho tem tanque próprio e tive que tirar a conexão da ponta da mangueira do tanque que alimentava o Mercury para poder bombear a gasolina para dentro do tanque do motorzinho, e esse bombeamento era feito de hora em hora, fora isso tudo bem. Minha navegação noturna tinha se antecipado, as 19:00h tinha contornado a  Ponta Grossa e estava aproado para o meu destino, foi ai que percebi a lua que tinha nascido bem atrás do Vivre, nunca ví lua maior, e estava vermelha como sangue, se meu celular conseguisse tirar fotos da lua vocês teriam uma noção do que vivi naquele momento, no outro dia, fiquei sabendo que a tal lua estava sendo chamada de Lua Azul, mas a que eu vi era bem, mas bem vermelha mesmo.

Navegar de noite foi uma experiência ímpar, apesar de toda essa confusão que lhes contei eu estava em paz e nunca me senti tão conectado com o mar. Como o mar é bonito de noite, e Ubatuba iluminada vista do mar então? É de cair o queixo, e a lua? Não me canso de falar nela, aquela lua imensa e vermelha vai ficar pra sempre na minha memória.

Lá pelas 21:00h joguei ferro próximo ao píer da marina Tamoios, sempre que estou no Itaguá fico por alí, achei que conhecia bem o ancoradouro mas vi que não o conhecia tanto assim, no próximo post conto sobre a 2ª encalhada da minha vida!

Seguem mais alguma fotos da minha "expediçãozinha"




A minha Lua vermelha ficou azul depois que joguei o ferro
no píer do Itaguá

Continua...

Próximo post:
4ª Parte
5ª Parte

terça-feira, 4 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (PARTE 2)

A parte anterior deste post está no link abaixo:
1ª Parte

Não foi a primeira vez que fiquei sozinho no Vivre, ficar sozinho no veleiro é uma solidão agraciada, quase uma longa meditação, diferente da solidão da casa vazia, ficar em silêncio no barco dá autocontrole e traz paz, aliás, paz é a palavra que me vem a cabeça quando lembro desse final de semana.

A noite no Vivre é assim, tudo escuro!
A lua já estava alta, tirei umas fotos, comi um miojo e me deitei, era para eu acordar cedinho e zarpar para o Itagua, antes de dormir me lembrei que existe uma superstição que diz que não se deve zarpar na sexta-feira, será?

Acordei tarde, 09:00 da manhã, rapidinho estava preparando o barco para partir, coloquei as velas, organizei tudo dentro da cabine e só então fiz um cappuccino, quando me casei ganhei uma grande lata de cappuccino de uma prima da Lena, a Lúcia, na época nem sabia que isso existia, hoje toda vez que tomo um bom cappuccino me lembro da Lúcia e daquele presente de casamento.

Já tinha traçado a rota na carta náutica e inserido os pontos no meu GPS, não abro mão de uma rota, ela serve principalmente para me manter a uma boa distância da costa e a um bom tempo dela também, coisa que aprendi com o Ricardo Stark do Gaipava, medo de velejador é pedra, água é o lugar mais seguro para um veleiro, sábias palavras que me salvariam a pele já já.

As 11:00h soltei as amarras e o Vivre estava de novo livre e com os panos em cima, estou pegando um gosto especial por partir a vela, me lembro que algum tempo atrás postei que o motor era mais meu amigo do que as velas, acho que essa amizade vai entrar em crise. A meta era vencer o boqueirão sem usar o motor e depois desta meta cumprida velejar o máximo possível até o Itaguá, não tinha mesmo hora para chegar, a final, o caminho era mais importante do que o destino.

Tinha um vento de uns 5 nós, mas era um vento constante e bem na cara que já era esperado, lá na Ribeira sempre tem esse vento nesse horário e eu contava que não seria diferente . Eu sempre velejei contra o vento, mas sempre me atrapalhei e geralmente não saia do lugar, acabava com vento de través a bombordo, fazia o jaibe e acabava com o vento de través a boreste, ou seja, ficava velejando em uma linha reta, quando cansava de tentar o motor era ligado, as velas arriadas e o problema resolvido. Desde que tive aquela epifania (veja neste post) tenho me dado melhor com vento, foi como se tirassem uma lente embaçada dos meus olhos quando eu olhava para as velas do Vivre, sobre isso, um amigo me disse "BEM VINDO AO PRIMEIRO DIA DO RESTO DA SUA VIDA" e ele não poderia ter escolhido melhor frase.

Feliz da vida, assim que conquistei
o Boqueirão
Com todo o pano em cima fui "bordejando" pela enseada do Flamengo, apanhei um pouco mas não chegou a ser uma surra como das outra vezes, na minha cabeça eu velejaria até perto da Ilha Anchieta e pegaria um través para cruzar o boqueirão, também me preocupava com uma correnteza que tem lá, finalmente cheguei no ponto que colocaria a ilha no través, mas não sei se foi por conta da interferência da ilha no vento, ou se foi uma pegadinha de Éolo, só sei que o vento continuava na minha cara gorda o que só acrescentou um sabor especial a minha vitória sobre o boqueirão.

Uma das coisas que um veleiro sempre oferece é a oportunidade de vencer dificuldades e se sentir bem, velejadores são assim, movidos pela busca incessante do sentir-se bem.

Logo após conquistar o boqueirão ele chegou, o tão esperado vento de través, fui velejando deliciosamente até ponta das Tonihas, onde o vento simplesmente zerou e tive que ligar o motor e as coisas começaram a dar errado...


Continua...

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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

PASSANDO DE FASE. (PARTE 1)

Fechei a gaiuta principal do Vivre cheio de histórias e ansioso para começar a escrever logo os posts, minha cabeça já começava a escolher as palavras para conseguir contar as grandes emoções que passei entre os dias 30/07 até 02/08 de 2015. Confesso que durante a viagem de volta pra casa foi muito difícil manter a concentração na estrada, não conseguia deixar de pensar nos incríveis momentos que vivi a sós com o Vivre!
Foto tirada pelo amigo
Vandeco

Última semana de férias das crianças e a Lena queria visitar os parentes em Minas Gerais e eu estava decidido a velejar, os meninos menores iriam com ela e os dois maiores poderiam escolher entre mar e a montanha, dessa vez Minas ganhou! Dia 29/07 as 09:00h embarquei a turma toda no ônibus da Cometa com destino a Conceição do Rio Verde, lá onde a Lena entrou na minha vida a quase 20 anos, o ônibus partiu e eu voltei pra casa, é impressionante como a casa fica vazia sem minha família dentro dela, um silêncio com o qual não estou acostumado.

Durante todo o dia fui arrumando a mala e preparando as coisas para correr até o Vivre, o silêncio nele é mais barulhento, sempre tem algum cabo batendo em aço ou fibra de vidro, alguma madeira rangendo ou o próprio mar com seus sons, lá  eu tinha certeza de que não me sentiria tão só. Terminada a arrumação das coisas fiquei sem ter o que fazer, pedi umas esfirras para jantar e as 22:00h não aguentei mais ficar sozinho em casa e sai em direção ao Saco da Ribeira, chegaria por volta de meia noite e dormiria no Vivre, pelo menos era isso que eu queria.

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Olhem a cara de dormido da criatura!
Por volta da meia noite cheguei lá na Ribeira, cansado e com sono fiquei com uma preguiça enorme de encher o bote, colocá-lo na água, tirar o motor de popa do carro, embarcar as coisas no bote e depois baldear tudo para o Vivre, então decidi dormir no carro mesmo. Dormi muito mal, o carro é quente e dormir semi deitado, ou semi sentado sei lá, é horrível para a lombar, pelo menos a minha reclamou a noite toda, sem contar que o carro estava na rua e a toda hora eu tinha a impressão de que algum policial iria bater no vidro e me pedir explicações sobre o que um marmanjo barbudo estaria fazendo dormindo dentro de um carro em via pública, então, entre uma cochilada e outra o sol nasceu e já era dia 30/07/2015.

Tudo já estava dentro do Vivre as 07:00h da manhã, e aquela cama a bombordo nunca pareceu tão acolhedora e confortável, o mar estava calminho com um bebê dormindo e o Vivre balança como uma gande rede, dormi... As 13:00hs acordei com os raios de sol entrando "forte" pela gaiuta principal e torrando minhas canelas, foi um sono rejuvenescedor.

Voltei para terra e fui comprar combustível e provisões, o trajeto inicial era sair no dia 31 até o Itaguá, dormir por lá, sair no dia 01 até a enseada de Picinguaba dormir por lá e voltar em uma velejada noturna direto para a Ribeira no dia 02, mas não foi bem assim que aconteceu, eu não contava que teria motor quebrado, problemas com a física dos líquidos, pedidos de comida em "alto mar", golfinhos as dúzias, mas isso fica para o próximo post!

Continua...

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