segunda-feira, 26 de outubro de 2015

HISTÓRIAS DO MAR.

Uma das melhores coisas que a tecnologia trouxe, foi aproximar pessoas com interesses comuns, já faz um tempo que participo de um grupo de velejadores no WhatsApp, e  foi nesse grupo que eu tive o prazer de ler uma das histórias mais bonitas que eu já li, e o melhor foi um caso verídico, agradeço ao Aurélio Paiva por me contar essa pérola que agora tenho prazer de compartilhar com vocês:


"Eu tinha uma propriedade no Saco da Velha, próximo a Paraty-mirim, por onde pegávamos o barco para atravessar.
Ventava muito, tipo 30 nós noroeste, eu e minha esposa chegamos e logo fomos ao portinho, lá chegando encontramos uma cena horripilante, um Fast 345 em rota de colisão com as pedras, panos em cima flamulando, cabos chicoteando para todos os lados...
...Uma catástrofe iminente.
De onde estávamos dava pra ver o pânico do casal que estava a bordo e um bote inflável vindo de lá em direção ao pier na maior folga, estranhei claro, e no meu instinto salvador fui logo de encontro ao bote para saber porque não tinha socorrido o casal. O SAFADO negou socorro porque o comandante do veleiro não podia pagar R$ 1000,00 naquele momento, não pensei duas vezes, deu um empurrão no safado que caiu nas pedras e enquanto ele tentava se levantar eu sequestrei o bote e saí em direção ao veleiro desgovernado, o vento estava tão forte que eu não podia dar velocidade no bote, ele navegava de lado e o Fast em rota de colisão com as pedras...
Cheguei junto com o primeiro impacto, amarrei o bote no guarda mancebo mesmo e pulei a bordo, o que eu vi dentro do veleiro foi de cortar o coração, um casal de velhinhos apavorados só esperando a morte, corri e peguei os estofados do barco para proteger o casco, mandei o casal para dentro da cabine e passei a mão em uma faca para cortar os cabos que impediam as velas de arriar. Dentro da cabine estava um horror, tudo espalhado e o zunido alto do vento deixava tudo mais apavorante ainda, e as porradas nas pedras... Meu Deus! Finalmente consegui cortar o adriça que estava prendendo a mestra e o pano caiu sobre mim, alívio imediato, as pancadas diminuíram bastante, foi quando escutei uma gritaria, olhei entre os borrifos e vi um barco azul e branco, as cores da bandeira de Ubatuba, aproado para o Fast e gritando para eu pegar o cabo. Eu só ouvia o barulho do motor em alta rotação indo e vindo e nesse vai e vem consegui pegar a ponta do cabo e meti no cabresto... Logo senti o tranco da puxada.
Naquele momento consegui ler o nome do barco salvador, era o pesqueiro Lua Cheia, vendo aquele bruta barco nos afastando daquele terror sentei na proa e chorei, chorei como criança.
O Lua cheia nos rebocou até a ilha da Preguiça, um super abrigo, lá soltei a âncora que estava toda enrolada nos cabos e fundeei o Fast em segurança, os velhinhos assustados me perguntaram quanto custaria aquela operação toda, na hora retruquei:
- Imagina que eu vou lhes cobrar!!! Jamais. Isso ele falou quando eu estava aduchando os cabos e colocando ordem no convés.
Então, senti a mão da senhorinha no meu ombro e com a voz ainda trêmula me disse:
- Foi Deus que te mandou aqui meu filho.
O velho já muito mais calmo do que a esposa disse:
- Pode deixar que eu arrumo o resto!
Não queria olhar diretamente para eles, sabia que iria me emocionar de novo, mas não tinha mais como adiar e levantei a cabeça com o choro na garganta e abracei os dois como se fossem meus avós. Nessa hora, a tripulação do Lua Cheia parou a contra-bordo e vieram me dar os parabéns, percebi que minha esposa, barrigudinha de nossa primeira filha, estava a bordo do pesqueiro e tinha assistido a tudo, foi ela que em terra procurou ajuda e encontrou o Lua Cheia, na verdade foi ela quem nos salvou.
O Fast 345 do Rio de Janeiro, nada sofreu, um tanque de guerra, só teve arranhões, já o estofamento ficou em pedaços lá nas pedras mesmo.
O Velhinho me deu um UÍSQUE JEHU, a coisa mais gostosa que já tomei, e a velhinha o ABRAÇO mais gostoso que já senti!"


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O SACO DA RIBEIRA É POR AQUI? PARTE II

Bem, no post anterior falei que levei uma turma de amigos do meu filho mais velho para a praia do Sul, lá na ilha Anchieta e que não tracei a rota e nem levei GPS porquê conheço muito bem a rota, terminei o post falando que enquanto o pessoal se divertia na praia eu fiquei no Vivre preparando um almoço e percebi que o tempo fechava cada vez mais.

Com a mesa posta no veleiro dei um longo assovio e a turma entendeu que estava na hora de matar a fome, rapidinho já estavam embarcados e todos comendo, por conta do tempo feio nem esperei que terminassem de se ajeitar na mesa e já levantei o ferro e parti, acho muito gostoso navegar enquanto a tripulação dorme ou esta a mesa, me da uma sensação gostosa, umas 2 horas a motor deveria ser o suficiente para estarmos seguros na praia do Flamengo.

Trinta ou quarenta minutos após nossa partida todos já tinham terminado de almoçar e cada um dormia numa cama do barco, e de repente, do nada mesmo, caiu uma espessa neblina que quase não me deixava ver a ilha, tudo que eu consegui enxergar era um vulto gigante que eu sabia ser a ilha Anchieta, naveguei, calma e tranquilamente, sozinho lá no cockipt, em um daqueles momentos que a gente relaxa bastante no leme e só espera a chegado ao destino, foi ai que percebi um vulto que achei ser a ilha das cabras; não pode ser pensei comigo, como eu passei o boqueirão sem perceber, corri para dentro do Vivre e peguei a bússola que ainda não esta instalada na antepara, lugar onde deveria estar, confirmei que estava na rota errada, e junto com essa descoberta o mar encarneirou  muito e assim que aproei para o boqueirão o motor começou a caturrar (quando o hélice sai fora da água), preocupado conferi o combustível, tinha combustível suficiente, mas por via das dúvidas desliguei o motor, acordei o Willyan sem que os outros percebessem e ele tomou o controle do barco, coloquei o colete e fui na proa deixar a genoa pronta para subir caso houvesse algum problema no motor, a mestra já estava rizada e decidi que assim ficaria, dispensei o Willyan que voltou a dormir.

Naveguei 20 ou 30 minutos fora da rota, isso dobra quando se tem que voltar. O percurso foi muito incômodo, incômodo para mim porque a criançada estava dormindo e nem perceberam que tínhamos tomado uma bela perdida, nem viram que eu larguei a cana de lema para ir preparar a genoa, quando um deles acordava e olhava para mim sempre encontravam um sorriso e um: Fica de boa ai que é só o mar um pouco agitado. Acho que consegui passar segurança para a tripulação, mas confesso que fiquei com um pouco de medo, principalmente quando, por conta da neblina, percebi muito em cima da hora que estava perto demais de uma rede de pesca, uns 50 metros da bandeira, o Vivre lambeu a boia da bandeira, mas não se enroscou.

O mar não perdoa arrogância e gosta de punir os que se acham donos da situação, nunca imaginei que pudesse tomar uma perdida dessa, aquela região é o meu quintal, é tudo que conheço de verdade do mar e me sinto seguro lá, mesmo assim permiti que a neblina me colocasse na rota errada, mas aprendi a lição, traçar a rota e ficar de olho na bússola é requisito para largar a poita, meu GPS também nunca mais fica em casa.

O outro lado dessa experiência foi navegar em situação de tempo ruim, posso dizer que foi marcante, ultimamente todas as minhas velejadas estão sendo muito especiais, cada uma com novas lições e emoções diferentes. Emoção, deve ser esse o princípio ativo que causa a dependência da vela. E a tripulação, mesmo com o tempo ruim, mar grosso, visibilidade bastante prejudicada e um frio de rachar, conseguiram manter a moral alta dentro do barco, ninguém reclamou de nada, quando eu falei que fiquei triste pois queria um dia mais quente para eles curtirem mais a resposta foi um sonoro "que nada Walnei a experiência tá ótima", quando o tédio batia eles dormiam para driblar o desânimo, parabéns a minha mais nova tripulação, espero tê-los novamente no convés do Vivre.

Gabriel, Lukas e Flávia, espero realmente que tenham gostado e que voltem para velejar sempre, mas que durmam menos (todos eles dormiram das 20h as 10hs, ou seja 14 horas) e passem um dia gostoso de sol para aproveitarem melhor a velejada.

Apesar de tudo foi muito divertido, e como eu aprendi com o mestre Juca, se está divertido esta certo!




GALERIA:
Lukas, Gabriel e Willyan.

A Tímida Flávia, ela crê que se mostrar o rosto na foto sua alma será capturada.

Foto da foto.



terça-feira, 20 de outubro de 2015

O SACO DA RIBEIRA É POR AQUI? PARTE I

Este final de semana foi muito legal pra mim, levei meu filho mais velho e uma turma de amigos dele para velejar. Achei que seria uma maneira de conhecer um pouco mais sobre os amigos do Willyan, sabe aquele ditado, diga-me com quem andas que direi quem és, pois bem, gostei do que vi, uma turma tranquila, focada nos estudos e no futuro, bem educados, inteligentes e dinâmicos, faz até a gente pensar que em um futuro bem próximo teremos um país melhor.

Praia do Sul
Na quinta-feira a previsão era de ondas grande, ventos na casa do 10 nós e vagas bem espaçadas, pelos avisos da marinha concluí que estávamos cercados por mau tempo, tinha ressaca pra cima e mar muito agitado com ventos fortes a leste e ao sul, sabia que teríamos reflexos na nossa área mas considerei que não seria perigoso, incômodo talvez.

O bote "de verdade" que esta em casa não cabe no porta-malas do carro, então sabia que teria que nadar até o Vivre pegar o bote que fica lá dentro, um excursion 3 da Intex , encher e trazer até a praia, já fiz isso algumas vezes, da primeira vez fui no braço mesmo e descobri que nadar 800mts já não dá pra mim, agora quando vou até o barco nadando vou com um colete e nadadeiras, em 5 minutos embarco.

Chegamos na praia da Ribeira por volta das 4hs da manhã, enquanto eu tirava um cochilo ali na areia da praia mesmo a criançada (desculpem turminha mas 18 anos pra mim ainda é criançada) explorava os cantos da praia com disposição e curiosidade típicas da juventude. As 6hs da manhã eles me acordaram, queriam embarcar logo e eu tinha prometido que pegaria o bote assim que o sol nascesse, pensa na preguiça que deu entrar na água as 6 da manhã de um dia frio e com uma garoa fina caindo, mas para minha alegria a água estava numa temperatura confortável.

Pronto, todos embarcados, Eu, o Willyan, o Lukas, a Flávia e o Gabriel (que ficaram de me enviar umas fotos para colocar no blog mas acho que ficaram com vergonha), ficamos batendo papo no barco até as 11hs para ver se o tempo abriria, e não abriu, eles queriam ir para a praia do Sul, achei legal pois lá é fácil de ir, conheço a rota como a palma da minha mão, a praia do Sul é o destino de mais de metade dos passeios com amigos e família, adoro aquele lugar, então nem precisei traçar a rota, o GPS deixei em casa mesmo, não iria precisar dele. Motoramos até o boqueirão, de repente, para alegria dos tripulantes os golfinhos apareceram nadaram bem perto do Vivre mas só dava pra ver as barbatanas, vi quando ele viraram todos em direção ao barco, achei que chegariam bem perto, mas sumiram. Assim que os golfinho foram embora entrou o vento da previsão, pouco  acima de 10 nós.

A hora de mostrar para a turma como é bom velejar tinha chegado, ajeitei a turma para trimar o Vivre e subi todo o pano, quem acompanha o blog sabe que alguns meses atrás eu não teria coragem de fazer isso, hoje me senti confortável, fomos velejando até nosso destino, todos desembarcaram menos eu, o Willyan levou todos de bote até a praia, se divertiram bastante mesmo com o tempo frio e eu lá preparando o almoço. Enquanto prepara a mesa e higienizava os pratos e talheres eu fiquei olhando para o tempo e vi que ele estava piorando muito, estava escurecendo cada vez mais  e as nuvens já cobriam completamente o sol, mal sabia eu que minha confiança no conhecimento da rota me colocaria em um armadilha...


O resto desta história você confere no próximo post!